dezembro 22, 2020
dezembro 20, 2020
Lembras-te querida?
Passeata de desconfinamento mental. Multidões desconfinam pela manhã. A máscara desceu à rua num dia assim: de chuva. Filas intermináveis confinam com o desconfinamento. De volta à casa desconfino finalmente. Nada melhor que limpar a casa ao som de boa música...
dezembro 07, 2020
Todas as noites me despeço
Todas as noites me despeço
de mim. O dorso afunda-se.
O bulício, os relógios
prosseguem por fora,
Nenhum antegosto
ou prelúdio do fim.
Minha energia
aflui, reúne-me? Na órbita
do sono, some-se e resplandece
a máscara mortuária.
dezembro 01, 2020
O caminho faz-se caminhando...
Porque um vírus é a
superameaça, o perfeito sonho totalitário e ditatorial. Nada de gulags, câmaras
de gás, campos de concentração, prisões, polícias, serviços de censura, o
rebanho avança para o extermínio pelo próprio pé e bem mascarado para que se
veja que obedece.
(RdC, aqui)
novembro 29, 2020
novembro 25, 2020
novembro 22, 2020
off the record
“Escreveu um dia Nietzsche que: a loucura é rara nos
indivíduos, mas é regra nos grupos, partidos, povos e épocas. É claro que
Nietzsche enlouqueceu. A excepção confirma regra.”
novembro 20, 2020
Deambulações
Jangada de Pedra
novembro 19, 2020
novembro 15, 2020
novembro 10, 2020
novembro 03, 2020
outubro 31, 2020
outubro 27, 2020
Nine Inch Nails - Hyperpower
outubro 22, 2020
Águas-Fortes Portenhas
Acordei, bebi água, e voltei aos
lençóis. Dei uma vista de olhos aos jornais e enfiei de golada três “Águas-
Fortes Portenhas” de Roberto Arlt. O mata-bicho do dia. Na verdade, esta
história começa muitos anos antes, algures numa biblioteca.
Já não sei em qual foi: Barcelos,
Braga? Conheci Roberto Arlt na estante correspondente à América do
Sul, prateleira da Argentina. Ali estava ele, completamente desconhecido,
solitário, a caminhar desesperadamente pelas ruas de Buenos Aires. Mas isso eu
não sabia ainda. Encontrei os “Os sete loucos” por acaso, edição da Cavalo de
Ferro, na capa um homem segurava uma rosa com a boca. Gostei da capa e li freneticamente o livro. Pesquisei. Não encontrei mais nada editado em português
de Roberto Arlt. A vida continuou algures entre estantes, o tédio, e o
ganha-pão necessário.
Acabou por sair uma nova edição
da Cavalo de Ferro. Roberto Arlt passou a ser da casa. Entretanto saíram
“Escritor fracassado e outros contos”, pela Snob, e “Águas-Fortes Portenhas”
(Editora Exclamação) que vou consumindo aos tragos para não emborcar tudo de uma
vez. São crónicas ou “notas” pintadas à
mão enquanto Arlt vagueava por Buenos Aires, escritor caminhante, ou
caminhante escritor, não se sabe bem.
Se pesquisarem no google e se lerem o posfácio desta edição encontram Arlt nascido em 1900 e falecido em 1942. A crer em Alberto Caeiro uma biografia só tem duas datas: o nascimento e a morte. Entre uma e outra todos os dias foram de Roberto Arlt. A nós resta-nos o prazer de os tentar vislumbrar.
outubro 16, 2020
Stayaway to heaven (perdão, stairway)
Tornou-se um costume cool usar
máscara nas ruas de Braga. Não é de agora. Imagino que em outras geografias o
mesmo se verifique. São as mesmas pessoas que enfartam os centros comercias e
outras grandes superfícies de distribuição, acotovelando-se, ora em corredores
de parafusos, ora em galerias de cuecas de gola alta, não respeitando
distâncias, mesmo as socialmente aceitáveis antes da coisa, resmungando
ultrajes causados pela demora que as disposições impõem nas linhas de caixa. A
imbecilidade é um bem de primeira necessidade, e os paradoxos que a definem não
estão ainda ao alcance de um ser humano normal.
Não se inquietem: as apps fazem parte das nossas vidas.
Descarregar a nova app stayaway covid
(que original - soa a Allgarve) controleira, é um afago carinhosamente
descarregado (um milhão já o fez sem necessidade de cassetete). Não que a levem
a sério, terá o mesmo destino das máscaras reutilizadas semanas a fio, com o
nariz ao léu, ou desfeitas em fanecos que adornam os rostos como peneiras. A
aparência é uma religião. Faz pandã com as modas e com o medo.
A imbecilidade escorre lá de cima
(deixem passar) e gosta de viajar para o lado. É como as nossas vidas
suspensas: lateralizam-se, futebolisticamente falando, mas não avançam.
Dizem-nos o que comer e beber, são padroeiros da nossa saúde, definem regras de
leitura, perseguem a pirisca, que se amanhe o piropo (os trolhas ficam com as vistas afectadas, deixai-os com os nudes e os vídeos do tik tok), o mundo avança com as
proteínas disponíveis e a delação, com ou sem máscara, segue o seu curso.
A app é apenas mais troço desse caminho. Não se trata apenas de controlo, as pessoas já escancaram a sua vida nas redes, ou por uns tostões em passerelles televisivas; a questão é de princípio, inconstitucional até à medula, relacionada com as liberdades fundamentais, um dos pilares do Estado de Direito. Não importa se uma larga maioria a aceita placidamente, ainda que, sem grande convicção. A partir daí o céu é o limite:
outubro 15, 2020
Irmão em Universo (deixem passar)
Álvaro de Campos nasceu em Tavira no dia 15 de Outubro de1890.
Ah! Ser indiferente!
É do alto do poder da sua indiferença
Que os chefes dos chefes dominam o mundo.
Ser alheio até a si mesmo!
É do alto do sentir desse alheamento
Que os mestres dos santos dominam o mundo.
Ser esquecido de que se existe!
É do alto do pensar desse esquecer
Que os deuses dos deuses dominam o mundo.
(Não ouvi o que dizias...
ouvi só a musica, e nem a essa ouvi...
Tocavas e falavas ao mesmo tempo?
Sim, creio que tocavas e falavas ao mesmo tempo...
Com quem?
Com alguém em quem tudo acabava no dormir do mundo...
Álvaro de Campos, "Ah! Ser indiferente!"
outubro 14, 2020
Conquanto
outubro 13, 2020
Grilhetas
O Cristiano tem a coisa. Pasmo? Afinal
a coisa tem uma relação de proximidade com a humanidade em geral. Mesmo a
humanidade atlética e com algumas posses. Os especialistas dividem-se
relativamente à coisa. Os políticos, consoante a geografia, também. A coisa segue
o seu curso com determinação e algum enfado próprio das coisas. A sua invisibilidade é apenas
aparente: vive no olhar de muitos de nós. Entre outras coisas, gostamos de ser
pastoreados. Cada grilheta a seu dono.
outubro 11, 2020
outubro 08, 2020
outubro 06, 2020
outubro 01, 2020
setembro 29, 2020
setembro 25, 2020
Os mortos e suas crianças
não alguém
diria aos filhos de Édouard
providenciem
e se eles não providenciassem
eu iria para a floresta dos reis magos
sem galochas e sem ceroulas
como um eremita
e haveria certamente um grande animal
sem dentes
com plumas
e redondo como um vitelo
que viria uma noite devorar minhas orelhas
Então deus me diria
você é um santo entre os santos
leve este automóvel
O automóvel seria sensacional
oito cilindros e dois motores
e no centro uma bananeira
que camuflaria Adão e Eva
fazendo
mas isso será objeto de outro poema
(Benjamin Péret)
mas isso será objeto de outro poema*
Eles assustam, mentem, manipulam, às falsas esperanças seguem-se as
ameaças a sério, as multas, e a promessa de que a desobediência se paga caro
põe todos os narizes para o mesmo lado, o rebanho obediente caminha atrás de
pastores que num mundo menos torto seriam levados à forca. Grande bênção o coronavírus, que
anuncia o admirável mundo novo. Reze-se um padre-nosso de graças a George
Orwell, que deixou o aviso, mas nada adiantou, porque as ovelhas não vêem, não
ouvem, não compreendem, são cegas, mansas, medrosas, gostam de obedecer e de
cacete no lombo.
(daqui)
(*sacado a Benjamin Péret)