fevereiro 28, 2013

É como quem diz a eleição de um sentimental


Ele há merdas difíceis de compreender, por exemplo, os seres humanos em Portugal apenas se manifestam de forma violenta quando assistem a um jogo de futebol, ou se acham na denominada atmosfera redundante que sustenta esse mesmo jogo (ainda ontem um autocarro de um clube foi apedrejado com blocos de cimento!, à saída de Braga); ou então, quando estão a conduzir um automóvel – e aqui qualquer razão poderá ser válida, ou vá, quando existe algum problema com a delimitação do murete do vizinho. As reacções a tudo isto são normalmente um comunicado escrito num sítio da internet ou um encolher de ombros televisivo dos intérpretes do comentário. Também sai qualquer coisa nos jornais da terra. 
Por outro lado, raramente um ser humano neste país se manifesta violentamente quando perde o emprego ou quando é explorado e mal pago, ou mesmo se tem fome para além da vontade de comer. De qualquer modo, qualquer comportamento nesse sentido seria obviamente considerado leviano, antidemocrático e até ofensivo. As reacções seriam previsivelmente revestidas de roupagens frenéticas a atender nos exemplos dos últimos tempos e cujo epicentro está relacionado com umas vaias e umas cantigas. A democracia ora é um mero fastio formal, ora é uma arma de arremesso ao serviço do gestor do momento. Qualquer objecção, seja ela qual for, deverá ser expedida por correspondência registada e com aviso de recepção.

fevereiro 25, 2013

Frequentemente recebem a denominação singela de antropóides


Fevereiro mostrou-nos que Portugal faz parte dessa terra que continua redonda e em movimento, neste caso, sempre no mesmo sentido. O léxico de autocarro inclui a espiral recessiva ao lado das transições rápidas defesa ataque, o que prova que a causa é inexorável, senão vejamos:
O Santander Totta teve 250 milhões de euros de lucros em 2012 e o banco do nosso companheiro Fernando sem-abrigo que através de uma ascensão meteórica um dia acordou como banqueiro Ulrich, BPI fechou 2012 com lucros de 250 milhões, já o BES do amnésico Ricardo Salgado fechou 2012 com cerca de 96 milhões de lucros.
Entretanto, a fraude BPN continua a estimular a piedade dos bolsos do estado a que por osmose solidária se juntam os nossos, e agora ficamos a saber de um ex-ministro que gostava de tapar buracos com Oliveira e Costa, tudo proveniente do mesmo saco amniótico cujo cordão umbilical desagua no companheiro de luta Cavaco.
Por falar na presidência, apraz-nos saber que ali se goza à tripa forra, em período de (suposto) controlo de despesas, esta emprega agora 500 pessoas mais 200 que o Palácio de Buckingham, o qual fica mais barato per capita aos britânicos do a que presidência da república aos nosso bolsos sem fundo.
Também o consultor Borges, um dos paladinos das medidas governamentais vem agora dizer, sem se rir muito, que a distribuição dos sacrifícios pedidos aos portugueses não tem sido equitativa e, segundo parece, há por aí muita impunidade. Lá isso é verdade.
Sem dramatismos, podemos sempre responder com a velha máxima, ainda recentemente utilizada pelo ex-secretário de estado da cultura Viegas, e mandá-los todos tomar no cu, embora este tomar no cu, em especial, nos pareça resultado da influência das inúmeras viagens que o escritor, editor, comentador desportivo e ex-secretário de estado faz amiúde ao Brasil. Aqui na rua é mais vão levar na peida, ou levar no cu, quando muito, vão apanhar no cu ou apanhar na peida.

E são estes gajos e seus sucedâneos que nos falam em democracia e em abalroamento da democracia, estes mesmos que favorecem as relações de subordinação, de lambebotismo e de corrupção, que anunciam medidas gravíssimas com desprezo e indiferença, dissimulando-as por detrás do biombo democrático, a estes todos, teremos de lhes dizer: vão apanhar na peida, ou no cu!

[olha]

fevereiro 24, 2013

Nas asas da Abdicação



Todas as ideologias, todas as concepções do mundo, sem excepção, se caracterizam pela intolerância. Todas são criadas por um certo grupo social para si próprio ou para um outro grupo, mas todas se outorgam o direito de serem válidas para toda a gente. Basta olharmos à nossa volta, basta olhar para trás, longe ou perto.

"terno Bárbaro", Bohumil HrabalTradução de Ludmila Dismánova. Teodolito. 


Momento Buckley

fevereiro 21, 2013

Carta da semana: o esplendor do relvas


Companheiro de luta Relvas: não se inquiete. A bem dizer ninguém se apercebeu daquele seu olhar de desprezo a despenhar-se em gozo transbordante, a bem dizer o momento refulgia nas células que o animavam enquanto desafinava ostensivamente umas notas do Grândola, em mais uma equivalência musical que o aproximará do primeiro-ministro. Durante a tocata e fuga em ré menor do ISCTE foi diferente, o engolir em seco do companheiro de luta tamborilou na minha cabeça a mais de trezentos quilómetros do local, e o seu semblante desnorteado ficará entalhado no meu saco de eventos de reconhecidos autocratas caciqueiros, autodidactas da infâmia, peço desculpa, futuros doutores da infâmia. Conseguimos daqui conjecturar o seu apetite de reles cacique imaginando o que faria àquela gente toda que o apupava, sem dúvida que a casa correccional dos velhos tempos daria um jeitão, mas nem tudo está perdido companheiro, vários amostras da casa antiga retornam para nos ajoelhar perante esse fado que nos garroteia com a ventura de um castigo: a miséria. Outros avisados companheiros de luta e de putedo da coisa pública já assomaram para o defender com os transumantes ventos da rosa, Francisco Assis e Santos Silva, cujos cognomes religiosos atestam a bondade da sua missiva, condenando o desrespeito pelas supostas normas democráticas, enquanto vão andando de gamela em gamela. Companheiros, onde há miséria não existe democracia! Um destes dias não vos chegam mil euros para gesso. Apareçam cá na rua. Prometemos distribuir bordoada democraticamente.

[lixo]  

fevereiro 14, 2013

Isto num dia bom



Portanto, basicamente, eu estava ali sentado entre o espaço e a Morte. Em forma de mulher. Quais eram as minhas hipóteses? Entretanto, esperava-se que eu localizasse um Pardal Vermelho que talvez não existisse. Eu sentia uma grande estranheza em relação a tudo. Nunca tinha contado meter-me numa embrulhada destas. Mal compreendia o motivo da coisa. O que é que eu podia fazer?

“Pulp” (pp.175), Charles Bukowski. Tradução de Vasco gato.
Alfaguara/objectiva

fevereiro 08, 2013

Carta da semana: tolerância zero


Companheiros, diz que o carnaval está próximo, mesmo sem tolerância de ponto lá teremos que tolerar as brasileiras lusas e os luso brasileiros portugueses de braga, transidos de frio e com a carne encorrilhada a fazer de conta que estão muito alegrados, e teremos ainda que condescender com outras merdas: o companheiro de luta Passos Coelho mascarado de primeiro-ministro, o companheiro Gaspar disfarçado de ministro das finanças e mais uma pauta de indivíduos ávidos das sobras, fantasiados de ministros, de presidentes de câmara, de presidentes da junta e por aí fora. Por exemplo, o companheiro de luta Seguro vai de António Costa, ao passo que o companheiro António Costa vai de António Costa, não vá o diabo tecê-las. O companheiro de luta Fernando vai de sem-abrigo que através de uma ascensão meteórica um dia acordou como banqueiro Ulrich – isto na terra das oportunidades como a nossa não custa nada! – o companheiro de luta Ulrich como alternativa também pensou em ir mascarado de vocalista de uma banda asfalto gótica austríaca, mas deve ficar-se pela primeira escolha. O companheiro de luta Ricardo Salgado vai mascarado de Ricardo Amnésia Salgado Monte Branco. Aqui na rua vamos todos ao entrudo chocalheiro bem longe, deixamos os oleados e as luzes vermelhas, levamos as putas, os amigos e os vizinhos que não mijem nos arbustos e não se queixem das costas e das cruzes, da pensão da Alemanha, das rendas baixas que (supostamente) cobram aos inquilinos, levamos a Farrusca, o gato, os fantasmas do esquerdo frente, levámos o Tabuletas se ele considerar soltar fogos, e vamos todos assim, mascarados de: VÃO TODOS PARA O CARALHO! 

fevereiro 07, 2013

Amanheceu, por assim dizer, com isto a passar na RUM




Esta merda até se ouvia bem até ser assassinada pelas playlists das rádios, passando quinhentas mil vezes ou mais por dia, e andando na boca desafinada de toda a gente como a pasta medicinal couto. Mas lembro-me de um grupos de amigos e amigas, perdido no tempo, um grupo alapado em qualquer lugar, qualquer um servia, recordo uma guitarra ou duas, e lembro-me de cantarmos isto, desafinados. Há quanto tempo foi, mais de 20 anos? Foda-se. 

fevereiro 06, 2013

Pronto, passem mas é isto nas mil e uma noites e cinco filmes e deixem-se de merdas




Já não seria a primeira semana Samuel Fuller (a outra foi há duzentos anos), mas dessa vez não passou o Cão Branco, pois não?

fevereiro 05, 2013

[entretanto para desopilar]: oh, fale-me de si senhor…


Seria o Céline o Céline ou seria outra pessoa qualquer? Por vezes, parecia-me que eu próprio não sabia quem era. Claro, sou o Nicky Belane. Mas reparem numa coisa. Alguém pode gritar: «Ó, Harry! Harry Martel!» e o mais provável seria eu responder: «Sim, o que é que foi?» Ou seja, eu podia ser uma pessoa qualquer, o que é que isso interessa? Que valor tem um nome?

“Pulp” (pp.15), Charles Bukowski. Tradução de Vasco gato.
Alfaguara/objectiva.

Por exemplo, you're the buyer or the seller



Tuxedomoon, "Desire"

fevereiro 03, 2013

Por motivo de força maior



  – Mas como vive? – perguntou-lhe a duquesa, condoída.
  – A mãe das crianças fia; a filha mais velha está na quinta duns liberais, onde guarda carneiros, e eu roubo, na estrada de Placência a Génova.
  – E como é que harmoniza o roubo com os seus princípios liberais?
  – Tomo nota das pessoas a quem roubo e, se um dia tiver alguma coisa, hei-de devolver-lhes as quantias roubadas. Entendo que um tribuno do povo como eu executa um trabalho que, devido ao seu perigo, vale bem cem francos por mês; por isso tenho o cuidado de não roubar mais de mil e duzentos francos por ano.
   Minto, roubo algumas pequenas quantias além disso, pois graças a elas posso pagar a impressão das minhas obras.
 – Que obras?
 – A… virá um dia a ter um quarto e um orçamento?
 – Como! – disse a duquesa, espantada. – É o senhor um dos maiores poetas deste século, o famoso Ferrante Palla!
 – Famoso, talvez, mas muito desgraçado; isto é que é certo.
 – E um homem do seu talento, senhor, ser obrigado a roubar para viver!
 – É talvez por isso que tenho algum talento. Até hoje, todos os nossos autores que se tornaram conhecidos eram pessoas pagas pelo governo ou pelo culto que eles pretendiam minar. (…)

“A Cartuxa de Parma” (pp.370), Stendhal. Tradução de Adolfo Casais Monteiro. Relógio d’Água.


fevereiro 02, 2013

Let's run




Dinheiro – Causa de todo o mal. “Auri sacra fama”. O deus do dia (não confundir com Apolo). Os ministros chamam-lhe vencimentos, os notário emolumentos, os médicos honorários, os empregados ordenado, os operários salário, os criados soldada.

in “Dicionário das ideias feitas”, Flaubert. Tradução de João Fonseca do Amaral. Estampa

fevereiro 01, 2013

As minhas cassetes 99: Manic Street Preachers



“Motorcycle Emptiness”, in Generation Terrorists (1992), Manic Street Preachers.


[eu gostava mesmo muito desta merda]

«Culture sucks down words
Itemise loathing and feed yourself smiles
Organise your safe tribal war
Hurt maim kill and enslave the ghetto

Each day living out a lie
Life sold cheaply forever, ever, ever

Under neon loneliness motorcycle emptiness
Under neon loneliness motorcycle emptiness

Life lies a slow suicide
Orthodox dreams and symbolic myths
From feudal serf to spender
This wonderful world of purchase power

Just like lungs sucking on air
Survivals natural as sorrow, sorrow, sorrow

Under neon loneliness motorcycle emptiness
Under neon loneliness motorcycle emptiness

All we want from you are the kicks you've given us
(...)
Under neon loneliness motorcycle emptiness

Drive away and it's the same
Everywhere death row, everyone's a victim
Your joys are counterfeit
This happiness corrupt political shit

Living life like a comatose
Ego loaded and swallow, swallow, swallow

Under neon loneliness motorcycle emptiness»
(...)