(29/09/2020)
setembro 29, 2020
setembro 25, 2020
Os mortos e suas crianças
não alguém
diria aos filhos de Édouard
providenciem
e se eles não providenciassem
eu iria para a floresta dos reis magos
sem galochas e sem ceroulas
como um eremita
e haveria certamente um grande animal
sem dentes
com plumas
e redondo como um vitelo
que viria uma noite devorar minhas orelhas
Então deus me diria
você é um santo entre os santos
leve este automóvel
O automóvel seria sensacional
oito cilindros e dois motores
e no centro uma bananeira
que camuflaria Adão e Eva
fazendo
mas isso será objeto de outro poema
(Benjamin Péret)
mas isso será objeto de outro poema*
Eles assustam, mentem, manipulam, às falsas esperanças seguem-se as
ameaças a sério, as multas, e a promessa de que a desobediência se paga caro
põe todos os narizes para o mesmo lado, o rebanho obediente caminha atrás de
pastores que num mundo menos torto seriam levados à forca. Grande bênção o coronavírus, que
anuncia o admirável mundo novo. Reze-se um padre-nosso de graças a George
Orwell, que deixou o aviso, mas nada adiantou, porque as ovelhas não vêem, não
ouvem, não compreendem, são cegas, mansas, medrosas, gostam de obedecer e de
cacete no lombo.
(daqui)
(*sacado a Benjamin Péret)