março 31, 2010

Na calha, sempre que um amor me quiser, vou comer um pastel de carne à São Vicente, para morrer saudável entre veículos motorizados. 

março 30, 2010

Ainda agora, enquanto não me tombavam as calças, reflectia sobre a problemática da penumbra. (Elegi, a propósito, muito a propósito, os ossos a quem debitar a conta).

março 24, 2010

Expectoração a meio da semana.

Vitupérios à solta na desmama do enclave laranja, tendo em conta os dez minutos que dispensei como ouvinte condutor de um veículo motorizado. E qualquer coisa de comissões de inquérito, isto lá mais para o final da tarde, [eu] a pensar se havia de ir ao focinho a um colega do trabalho, se havia de encontrar um sítio onde pudesse papar uns caracóis com cerveja. Não raro, hoje por amanhã, não pisco nada da consistência de um real sublimado pela estupidez, o que me leva a suportar, cada vez menos, ainda assim, o meu canastro, e as notícias exageradamente antecipadas da minha morte, já para não falar dos repastos sociológicos que ruminam sentenças sobre a morte de outros. Já não sei nada, mas leio, absorto no tráfego da manhã e do final de tarde, com PEC ou sem vergonha, testemunha salpicada de apanhados risonhos à melhor de três. Sou um condutor de canastros, lá isso sou… 

março 20, 2010

Ontem comecei a ver o Sweeney Todd e de repente começaram todos a cantar

Olha para aí: hoje não trabalho. Vivo arrumadinho da chuva; limpo a casota, leio o jornal e ouço coisas fantásticas nos telejornais da uma hora. Olha: vem aí a primavera, e com ela (segundo uma senhora acho que professora e tal), aflora uma energia complicadíssima, e como os humanos efectivamente não hibernam, podem não estar devidamente preparados para recebê-la, isso já para não falara das depressões à conta da luz (sem EDP pelo meio), e que (o melhor mesmo) quando um tipo está num ambiente quentinho e húmido o melhor mesmo “é dormir”. Ainda apanhei num soslaio tenebroso, uma referência a Durkheim, e como sou um gajo que lê muito e gosta muito de bola, fiquei logo atento: “para um homem se suicidar, tem que existir no seu interior energia vital”. E, no exterior, novelas da TVI, por exemplo, acrescentei mentalmente, mas já com um sabor estranho na boca, derivado, segundo creio, à degustação recente de uma sopa canja desidratada Knorr com uma salchicha e ovo acoplados. Depois vim para aqui, mas antes tocou o telefone….

março 17, 2010

por acaso goin down slow

Seria uma tabacaria?

Entrei na padaria errada, na demanda de uma sandes de queijo prometida por SMS. Todos notaram a minha falta de jeito inusitada, ainda para mais arroupado num dominó desacertado. Pedinchei um panike para a coisa ficar por ali… e um maço de tabaco.

março 15, 2010

Efectivamente

Para falar verdade, eu não gosto do sr. eng. nem dos seus acólitos; mais a mais, na senda da verdadinha, não aprecio por aí além a verdura que cresce nas extremidades dos senhores e dos respectivos engenheiros, nem os nadas por ali perto, no centro das actividades. Das entranhas próximas ou escusadamente iguais, adivinha-se, não morro de amores. Estou para morrer: longe. Da gama de anti-qualquer coisa, prescrevo(-me) o desvario e o percalço inusitado. Já quase não leio. Quase. Mas ninguém me tira as tirinhas antigas dos jornais e a bula das pastilhas. Vive-se. Como andará a padaria?

março 11, 2010

Tenho cada vez mais saudades dos (meus) livros, e ainda assim dos livros, até que por fim, literariamente claro, aconchego-me em ideias que bem poderiam ser ideais, sem outra razão para existirem, sem dúvida, para além do eu…e de eu próprio, passe o pleonasmo ou o caralho...

março 05, 2010

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Vivo abreviado 
e as palavras soltas que arredam
rompem entre flores que não reconheço.
Ali o gato e porém nada resta.  


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O meu pasquim predilecto faz vinte anos

Andava eu por andar no famigerado 12º ano, depois de uma reprovação a todos os títulos injusta e contra revolucionária, quando um rapazote que tinha a mania que lia qualquer coisa…

março 04, 2010

gosto de sofás abandonados nas bouças e de tigres (principalmente de tigres)

sempre os mesmos poemas

"Nada consta"

Falta-me a folha cinco
E entretanto a barba foi crescendo
a minha barba veio crescendo ferozmente
indiferente à morte de um ou outro amigo
às letras protestadas aos desgostos domésticos
às viagens lunares às convenções às lutas
Quando as coisas se erguem contra o homem
se eriçam agressivas contra ele
nem ao poeta basta o parapeito das palavras
Eu por exemplo homem de pouco tempo
trazido pelos dias aqui estou
Continuo a dizer: se alguma coisa há
que podias perder e ainda não perdeste
de que já a perdeste podes estar derto
Falta-me a folha cinco
Estou com a barba feita
Ainda este ano talvez em marienbad
eu vi mulheres curtidas pelos lutos
Mal de morte é o meu
em plena posição de pé às três da tarde
em meio do movimento do rossio
sentado à tarde no cinema em dias de semana
Já caem carnes já se perdem pêlos
já quase só me resta a devoção
lisboa certos dias um amigo às vezes
Poucas coisas importantes pensei durante a vida
uma mesa de sol em pleno inverno
um mar incontroverso alguns papéis
- continua a faltar-me a folha cinco -
pois apesar de tudo nada consta



Ruy Belo, País Possível- Editorial Presença

março 02, 2010

A fronteira

Todos os sonhos do mundo acoplados a um anti-histamínico. A fortuna diz-nos boa noite. Nada de anti; nem histamínico à vista.