fevereiro 25, 2020
Entrudo dentro
(Pinhel, 25-02-2020)
O vento soprava fraco ou
moderado, não sei bem, enquanto caminhava ao longo da cerca urbana. Longe de
carnavais pareceu-me o horizonte limpo. O entrudo, esse, esfumava-se à medida
que a digestão do bucho do almoço seguia o seu curso. A Feira das Tradições
(mais uma) era já uma recordação num futuro cardápio de memórias portáteis, e o
silêncio continuava a insinuar-se de forma totalmente irresponsável. Ou isso.
fevereiro 21, 2020
fevereiro 16, 2020
fevereiro 14, 2020
De nenúfar em nenúfar
Foi mais ou menos por estar a ler isto que (re)descobri (algures num recanto da estantina antiga) as Memórias de Raymond Aron. Andar de nenúfer em nenúfar requer alguma agilidade e rapidez. O tempo é curto. E nunca chega. Preciso de um subsídio para me recolher em silêncio junto ao riacho dos nenúfares.
fevereiro 10, 2020
A greta pandémica
Ainda recentemente andávamos
todos em cortejo com a missão de salvar o mundo: as alterações climáticas, o
clima, os incêndios, devidamente explicados em fascículos televisivos,
comentadores especialistas, a Greta que nos guiava pela mão. O mundo foi salvo in extremis enquanto o diabo comia um sushi num centro comercial de
Braga, que isto é um mundo global. Pouco depois, o mundo, coitado, era açoitado por uma hipotética
guerra entre o Irão e os EUA, e mais alguns parceiros de um lado e do outro, que
aqui não existe homofobia que nos valha. Como se aquela zona do mundo e
arredores não andasse sempre em bolandas. As televisões e as redes sociais
ocorreram em força, e mais uma vez o mundo foi salvo in extremis. Bastaria dar um salto a este documentário (passou
recentemente no National Geographic) para
percebermos como aquele lado do mundo se entretém enquanto nós os salvamos. Cansados
de salvamentos, com os dedos e os olhos esfalfados de tanto mirar os ecrãs, chega-nos
por fim um alerta pandémico com nome de cerveja mexicana. Ocorremos em massa,
não se sabe bem para onde. As máscaras já esgotaram e não eram do Joker. O
Joker já passou à história. E assim acontece.
fevereiro 09, 2020
Não consigo
Não consigo é um bom slogan. Frederico já não está perdido numa
encruzilhada. Frederico é a encruzilhada. Ontem ouvi parte da sua entrevista ao
Record num canal qualquer. Frederico perora sobre o seu trabalho invisível, as
obras na academia o (re)negociamento da dívida (curiosamente, Carlos Barbosa,
poucas horas antes declarando-se seu apoiante falava de um clube sem dinheiro
para mandar cantar um cego e que devíamos vender 50% do capital da SAD), o blá
blá da aposta na formação (sem se rir), e quanto ao resto ele simplesmente não consegue.
Fatia considerável desse resto
fazia parte do seu putativo domínio do conhecimento do futebol, do balneário,
das contratações cirúrgicas, para usar um termo que lhe deve ser caro. De
engano em engano, com sucessivos tiros no pé e noutras partes anatómicas,
atropelado pelas evidências, Frederico lá vai reconhecendo alguns erros. Meses
de atraso medeiam uma ou outras dessas pequenas epifanias que lhe permitem ver
(e contradizer-se) com espanto a realidade.
Eu não consigo, seria um mote muito interessante para um candidato a
eleições, pelo menos ficávamos logo a saber com o que contar. Assim, o não consigo, revela-se não apenas como
um exercício penoso, mas irremediavelmente tardio, a reboque das
circunstâncias, dos resultados, aflorando de uma epiderme visivelmente desgastada
por constantes retoques.
Não consigo poderia igualmente entrar para os anais da literatura
light de supermercado. Está ao nível do Prometo
Falhar e Prometo Perder de Pedro
Chagas Freitas, ou do Não Há
Coincidências de Margarida Rebelo Pinto. Muito longe do preferia não o fazer, personalizado por
Bartleby, no clássico de Melville,
Bartleby o Escrivão.
Recentemente, no Aleixo FM,
programa de Bruno Aleixo na Antena 3, dizia-se que o futebol português é uma
porcaria lenta e que as porcarias lentas são sempre (consideradas) muito
estratégicas. E quando não são lentas estão paradas. Assim é o jogo e assim é
governado o futebol que supostamente o gere. Sobre isto as palavras voaram
alto. Relativamente à lentidão de processos estamos conversados.
(publicado originalmente no insustentável)
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