setembro 26, 2019

A saga de Frederico*


Tinha saído de um cruzamento com algum tráfego, após se ter perdido numa rotunda, vindo de uma cangosta em terra batida com a ajuda de um GPS. Saiu da viatura a arfar. Olhou em redor. Se olhássemos com atenção víamos mais duas ou três pessoas dentro da viatura. Parece que ninguém o terá acompanhado nessa saída. Estava escuro. Minutos depois voltou a entrar. Um pouco mais à frente encontrou um entroncamento com os semáforos desligados. Deitou à sorte e seguiu com determinação. A noite trazia-lhe agora algumas luzes que lhe deram algum alento. Mas a estrada era secundária e sem grandes referências. Deixou o GPS e urdiu um plano com a cumplicidade dos demais. Não andou muito até encontrar mais uma encruzilhada. Desta vez não hesitou e acelerou. Reconhecia aqueles lugares mas não lhes conseguia dar um nome. Ficou confuso. Já era dia alto quando, finalmente, encontrou o seu labirinto, ficava junto a um promontório que dava para um abismo. Pelo menos não era um beco sem saída.

(* 43º Presidente do Clã Sporting)

[publicado originalmente no Insustentável Leveza de Liedson - deixo igualmente algumas postas anteriores, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui]

Coisas que se vão ouvindo por aí: Viagra Boys



Ainda há esperança. Parece que os tipos estiveram no qualquer coisa primavera sound, mas para mim é impossível hoje em dia analisar com calma o cartaz de um festival, aquilo são palcos atrás de palcos, eventos, sessões gastronómicas enlatadas, o que nos obriga a um GPS e a uma investigação apurada anterior. Tira a tusa toda. Risos. 

Nota: aquele sax é um Morphine fora de água, em plena corrida. Não é?

setembro 20, 2019

Stieg Larsson


Cheguei a Stieg Larsson através de "Os homens que odeiam as mulheres" ou Millenium 01, quero dizer, cheguei primeiro aos filmes e depois ao autor do livro. E não foi logo que cheguei (outra vez?) ao autor do livro, podemos perfeitamente andar por aí a ler um livro sem chegarmos (vamos chamar-lhe a assim) ao seu autor. Quando comecei a ler os "Os homens que odeiam as mulheres" para desopilar de outras matanças do porco, decidi pesquisar sobre Stieg larsson e fi-lo à maneira de Mikael Blomkvist (um dos protagonistas): fui ao GOOGLE. É por aí que o Mikael e a Lisbeth começam sempre, sendo esse o caminho, aliás, que a humanidade toma sempre que quer dar uma voltinha. 

Teclar no GOOGLE pode dar-nos a volta ao estômago, mas encontramos sempre qualquer coisa: wikipédias, biografias disponíveis nos supermercados de livros online, mas também montes de artigos, reportagens, críticas de jornais, neste caso sobre o autor, a sua vida e os seus livros. Ficamos a saber que Stieg Larssen era um jornalista e um investigador, especializado em grupos terroristas e extremistas em geral, da Suécia e da Escandinávia, países com pano para mangas nestes assuntos. Ficamos a conhecer alguns desses panos para mangas, algumas mangas-de-alpaca, alguns costumes sórdidos, cujo estado providência terá, suponho, ajudado a criar de alguma forma. O homem teve a cabeça a prémio por gostar de fuçar nesses meandros. O homem para além disso tudo era escritor.

Durante a leitura de “Os homens que odeiam as mulheres” percebemos os seus conhecimentos nessas áreas do têxtil e dos panos para mangas. Percebemos a sua paixão pelos policiais. Por ali aparecem Dorothy Sayers, Elisabeth Georg, Sue Grafton, Mickey Spillane, Sivar Ahlrud (quem?), que me levaram à loucura de gastar meia tarde a fazer uma listagem de policiais de referência, coisas que havia lido, livros em falta, novos autores, constatando com a mágoa do costume que nos falta traduzir tanta coisa. Ficamos a saber que Stieg investigou seriamente a morte do antigo primeiro ministro sueco Olaf Palme e que, a partir dos seus arquivos, Jan Stocklassa continuou essa investigação publicando “Stieg Larsson. Os Arquivos Secretos e a sua alucinante caça ao assassino de Olof Palme”, com edição portuguesa recente.

Nestas viagens acabamos por encontrar sempre a morte. A do autor em 2004, supostamente de ataque cardíaco após a subida de sete andares no seu prédio. Tinha apenas 50 anos e três livros da série Millenium publicados. Michael Nyqvist, actor que vestia a pele de Mikael Blomkvist na trilogia morreu em 2017 de cancro. Tinha 56 anos. Soube disso ontem. Enquanto bebia um café numa esplanada. A seguir fui ver o Sporting.

setembro 15, 2019

Robert Frank

“New York City, 7 Bleecker Street,” September, 1993.

“Parade – Hoboken, New Jersey,” 1955. (From “The Americans.”)

“Charleston, South Carolina,” 1955. (From “The Americans.”)
Robert Frank (1924-2019)


Fiquei à beira de ser fotógrafo. Falei disso por falar recentemente. Perguntaram-me: de casamentos e baptizados? Mais ou menos, dei por mim a responder. O que recordo mesmo é de andar com as mãos em concha pela cidade do Porto. Por aí lembro-me bem. Lembro-me de sonhar com películas a preto e branco e quartos escuros. Sempre gostei de quartos escuros, sempre não, a partir dos cinco anos. Acho que fotografei o Porto todo em poucas tardes, guardando as películas no cérebro. Devo ter fotografado outros sítios e pessoas, sempre com as mãos em concha, insisti, por razões de trabalho nas máquinas digitais, mas a partir do advento dos telemóveis decidi deixar de guardar as minhas películas numa bagagem no cérebro. Teríamos que inventar uma nova palavra para fotografia: desenhar com luz já não é verdadeiro. 

setembro 14, 2019

A puta da "gravidade" - Linda Martini



Senti um déjà vu saído do burgo tuga. Aquela guitarra é Mão Morta anos oitenta noventa. O roque farfalhudo é dos nossos. Bom, depois começam a tocar os Linda Martini, os Paus, e por aí fora. Tocam bem.

setembro 10, 2019

Os homens que odeiam as mulheres

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Acabado o Livro I (de quatro) de "Guerra e Paz" decidi desopilar. Já andava a bruços com "Napoleão Uma Vida Política", de Steven England, a vasculhar tudo sobre a batalha de Austerlitz, eu sei lá o que mais. O costume. Como escreveu um dia Carlos Patroquim, deve recusar-se (nem que seja momentaneamente) esse calhamaço que dá pelo nome de Guerra e Paz, até porque está demasiadamente bem escrito e o homem é suspeito de laivos nacionalistas. A assim entramos no e agora algo completamente diferente: "Os homens que odeiam as mulheres"ou Millenium 01, de Stieg Larsson, um começo demasiadas vezes adiado, com a visualização dos filmes no bucho. Esqueçam a versão americana. Irei até ao Millennium 03. O resto é mercado de transferências. 

setembro 03, 2019

Apesar de tudo, obrigado mister Keizer

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as suas unhas não fazem pandã com esta guitarra, mas, por favor, leve consigo quem o contratou, vai ver que é uma mais valia...