abril 11, 2020

Isolamento (XV)


Estive a pensar: lá fora é o exterior?

Um exemplo: A cultura vai ter de ocupar as ruas, vai ter de ocupar as cidades, diz uma ministra. O campo está dentro de nós, é roupa de andar por casa, uma ideia velhíssima: a província.

Livrarias independentes juntam-se e lançam campanhas. A rua não o sabe. Dentro de portas ainda há rua. As muralhas têm as suas portas e, lá dentro, ruas. Das ameias vê-se quase tudo.

Sucedem-se: movimentos não visíveis a olho nu. A seguir ao pico será a planície. É uma pergunta?

O mundo biológico não quer saber da geografia (pano para mangas).

Lido cá de dentro, “Victoria”, de Knut Hamsum, parece escrito sob o peso de um universo onde o mundo está apenas a começar a morrer. Já morre há alguns dias. O filho do moleiro ainda escreve poesia: estive a olhar as minhas fantasias onde o sol é muito forte [e queima].

Arthur Koestler escreveu “O Zero e o Infinito” (saiu da minha caixa de primeiros socorros). “O Zero e o Infinito” é uma prisão: mesmo se considerarmos o exterior, dentro de cada um habita já uma prisão: não havia certezas; só o apelo a esse oráculo trocista chamado história que só lavrava as suas sentenças quando os maxilares dos que para ele apelavam se tinham transformado há muito em pó.

Ganha pouco [lay-off assim de forma simplificada]: bom nome para uma loja, inspirador de confiança (Flaubert)

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