fevereiro 26, 2018

Pinhel, perto de si

(Pinhel, ameias voltadas a Oeste)

Nascido minhoto, de Barcelos, habituado a gente, muita água e a cantar de galo, dos livros e viagens conhecedor do país, com vivências longas em Coimbra e Braga (entre outras menos significativas mas igualmente marcantes), há já alguns anos que aporto em Pinhel, duas a três vezes por ano, mais, se o tempo e a disposição de quem me recebe, o permite.

Nada disto interessa. Ou interessa(rá) apenas a uns quantos. O turista acidental, o passeante cultural, mesmo o estudioso da história, ou a da pré-história (a propósito, no museu do Côa, alguns quilómetros a este, não nos cruzamos com mais ninguém, não contando com os funcionários em pleno tédio vegetativo), estando por ali de passagem, observa com olhos de trazer por casa, a sua casa, não poupando panegíricos às paisagens, ao sossego, escrevendo (mentalmente, claro) odes aos calhaus dos castelos (é assim que se chama a zona histórica de Pinhel), isto enquanto procura um restaurante (onde se coma bem), fotografando-se  as milhares de vezes que forem necessárias. Caso raro, conhece, ou troca, uma ou duas impressões com os indígenas. Às vezes o adiantado da hora apanha-o longe de mesa e cama lavada, mas sempre perto da hospitalidade de um prato de sopa e pão com chouriço. O bastante para descomprimir, dirá mais tarde.

Ora, o turista, o passeante, o estudioso, se olhasse para além do sossego, das ruas desertas, do caldo de pedra que a natureza serve aos olhares, veria, ou julgaria ver, a história, ou as estórias, de uma região que, não obra do acaso é parte do país chamado Portugal, servindo-lhe, durante muitos anos, de tampão, coisa que se pode comprovar de qualquer ameia que encontre por perto, ou escutando o vento leste, aquele que vem de Espanha. Embora o gasóleo seja lá muito mais barato. E se por qualquer desvario continuassem a olhar, encontrariam, pouca, ou nenhuma, publicidade à miséria, mesmo aquela devidamente embalada em produto cultural, e um ou outro evento, nada original, daqueles que já não chegam em paquetes, mas na camioneta da carreira. E nem sequer há neve que se veja.

A história mais recente do Concelho de Pinhel, distrito da Guarda, é a história de uma sangria. Hemorrágica, nas décadas de sessenta/setenta do século passado, com consequências que perduram e são conhecidas, ou deveriam sê-lo. Europa (sobretudo), África (colónias) e América foram os destinos. Ficaram os campos desertos, a floresta abandonada, e alguns indefectíveis. As razões da partida? Ainda não se conhecia a palavra economia, e a vida continuou.

Continuou, até que os filhos dos que ficaram foram estudar para fora cá dentro. E ficaram do lado de fora cá dentro, nunca se sabe, com esta coisa do local global. A malta encontra-se nas festas, sejam estas familiares, populares, ou todas as outras que chegam na camioneta. Assim como chegam, partem. Ficam os indefectíveis e alguns planos discutidos entre copos. Outros voltam para ficar, mas são tão poucos que não chegam para jogar uma partida de sueca.

Vierem as estradas, outras sofreram melhoramentos. É mais rápido chegar, muito mais fácil será partir. Por decreto, ou coisa parecida, devidamente subsidiada, chegaram algumas unidades industrias. A principal destas, a Rhode, desapareceu em 2006. Ficaram 370 pessoas a acenar na sua partida. O antigo espaço da Rhode (Rhode que merecia uma história à parte), passou a chamar-se pomposamente de Centro logístico de Pinhel. Alberga, dizem-nos, umas pequenas unidades de calçado, e agora também umas empresas de aeronáutica (a sério) francesas. Tudo somado é muito pouco. Os decretos continuam a acenar as suas possibilidades políticas.

Agora que a palavra economia é conhecida e adquire vários sentidos, muitos destes em língua inglesa, percebe-se que o tecido económico do concelho é, na verdade, uma manta de retalhos (apenas visível de vista aérea – daí, se calhar, as empresas aeronáuticas), cozida pelo município. A câmara é o grande empregador directo e indirecto. Tudo acaba por desaguar ali. Nas festas, o panegírico ao status quo assume contornos de síndrome psicológico. As autoridades passeiam-se com uma legitimidade apenas possível num sucedâneo da democracia. É tudo em ponto pequeno – até a vergonha –  o bastante para percebemos o irremediável desta modernidade de pacotilha. Nada disto terá aqui origem demarcada. E a vida continua. 

Nota: parece que agora a nova aposta será a criação de falcões (Pinhel é a Cidade Falcão), certamente para vigiarem a manta de retalhos. Os pombos que se cuidem. A vida continuará, certamente.

fevereiro 18, 2018

Viagens na minha terra (resumo da última semana)

(Pinhel)
(Figueira Castelo Rodrigo)
(Castelo Melhor)
(Museu do Côa - Vila Nova de Foz Côa)
(Museu do Côa)
(Mêda)
 (Ciudad Rodrigo - Espanha)

PS: Viagens na minha terra inclui, assumidamente, uma parcela de Castela e Leão. Vinte quilómetros mais concretamente. Só para chatear. Em breve, um pequeno ensaio sobre Pinhel, o planalto Beirão, a palavra despovoamento que rima com esquecimento. 

fevereiro 08, 2018

A história a cores


Nos oitocentos anos, mais que as virtudes isoladas ou as benfeitorias de um ou outro governante, avultam os crimes contra o povo. 

fevereiro 06, 2018

Acumulação de proibições e outros sintomas virais


A propósito desta posta, leio em "Com os Holandeses", de Rentes de Carvalho o seguinte:

(clicar na imagem para ler melhor)

De salientar que a primeira edição holandesa data de... 1972. Nesta especialidade começamos muito mais tarde (à época tínhamos outras preocupações e outras... proibições), mas somos bons a queimar etapas, e sem ir ao ginásio. Deixo-vos uma entrevista de Rentes de Carvalho, ao jornal Público, aquando da primeira edição portuguesa em... 2009. O título é sugestivo:



From a whisper to a scream

Após um compromisso madrugador de trabalho, fui arejar à biblioteca (a propósito, já cá canta “A Flor e a Foice”, de Rentes de Carvalho). Chegado a casa, antes de (mais) um compromisso com a vassoura, deu-me para escolher um disquinho para animar. Não sei porquê fui desaguar a uns Cds perdidos dos The Mission. Não ouço os Mission há séculos, penso até que é necessário um verdadeiro espírito de missão para os conseguir escutar. Mas o mais importante é não renunciar a nada, muito menos às origens. Caso apeteça, obviamente. Apeteceu-me.


Quando era puto, recebia com a religiosidade de um relógio que nunca usei, um disco em vinil, ao final da tarde do dia 24 de Dezembro. As prendas já estariam compradas, mas ao final da tarde, já em família, passávamos numa loja de discos (há muito desaparecida), sita à Rua Direita, em Barcelos. Uma dessas vezes, caiu-me no aperitivo o álbum “Children” (1988) dos The Mission, uma banda cujo vocalista tinha sido guitarrista dos Sisters Of Mercy (que entretanto vestem de amarelo). A primeira faixa do lado A do disco chamava-se “Beyond the Pale”. Tinha sete minutos e quarenta e nove segundos. Devo-os ter contado nessa e noutras noites. E isso basta. 

fevereiro 02, 2018

Novas leituras





Enquanto aguardo a chegada de "Portugal, a Flor e a Foice", de Rentes de Carvalho, faço a coisa "com os Holandeses", salvo seja, ou nem tanto. Quanto ao "Da Esquerda à Direita", perdão, "Da Direita à Esquerda", foge-me sempre, deixem passar, parece-me (à vista desarmada de algumas páginas), um interessante levantamento, para não dizer recolha, de práticas, hábitos e consumos socioculturais da esquerda e da direita,  ferramenta que me teria sido muito útil algumas luas atrás, quando me debruçava de parapeitos grandiosos, na tentativa de afiambrar um grande projecto que se ficou pelas intenções. Nem sempre boas. Agora vou até ali, lavar os dentes, e depois trabalhar um bocado. Que isto não é vida.