abril 30, 2009
abril 29, 2009
Quero ver Portugal na CEE?

“J'irai cracher sur vos tombes”, na tradução portuguesa: Irei Cuspir-vos nos Túmulos.
abril 28, 2009
Ergo e porque não o meu copo
Ouvi isto, inesquecivelmente, sem fartar, durante a época de reprodução das fadas; época de tal latitude, que vós, com hesitação, descredes…
Toda a gente tem um buda em casa perto daquele quadro do menino a chorar, não?

abril 27, 2009
abril 26, 2009
E por aí fora...
À hora X, no café Portugal
À mesa Z, é sempre a mesma cena:
Uma toupeira ergue a mãozinha e acena…
Dois pica-paus querelam, muito entusiasmados:
Que a dita dura dura que não dura
A dita dita ditadura – dura desdita!
Um pássaro canta diz isto assim é pena
E um senhor avestruz engole ovos estrelados.
abril 25, 2009
E a 26?
Como dizia um amigo meu “o mais importante do 25 de Abril é o que acontece (e aconteceu) a 26 e por aí fora” Viu-se…
abril 23, 2009
O admirável sofá novo

As apreciações passam pela bola, os novos programas da TVI24, com um admirável fundo azul, para não variar. Ainda assim, pasmam com esse fundo. E o vermelhinho SIC, ah? Ou será ao contrário? Debates. Conclaves. A mesinha disposta ao centro num cenário pobretanas. Enternecem-se lívidos a observar as derrapagens e despersonalizações que alguns (mesmo os bons - afirmam) sofrem na, digamos, degenerescência do processo televisivo. Uns, gordos, outros magros. Penteados pindéricos. Tiques nefandos. As vozes do dono. Cada um com o seu. A barriguinha e o ar de puto. E depois, os programas ainda mais intoleráveis, vêem-nos todos, evidentemente, para poder analisar: jornais, nichos, passeatas da fama, cançonetistas, programas com nome de gajas, apanhados, "circo e mais circo", escrevem, visivelmente alterados. Mudam de canal. E ali ficam. Observam indivíduos a tropeçar no passado ("a toda a hora!" – repetem- exaltados, denunciantes, moralistas); "aqui há gato", vociferam outros, reflectindo sobre as meninas (e meninos) em pelota total (incluindo a intelectual). E ali ficam. Mais uma série, enquanto se vai buscar um docinho e lavar a loiça. Perde-se pitada aqui e aguenta-se estoicamente ali. Acolá ainda há-de ter qualquer coisa para se ver. Perdão, para analisar.
Bom dia, amanheço assim
E entretanto a barba foi crescendo
a minha barba veio crescendo ferozmente
indiferente à morte de um ou outro amigo
às letras protestadas aos desgostos domésticos
às viagens lunares às convenções às lutas
Quando as coisas se erguem contra o homem
se eriçam agressivas contra ele
nem ao poeta basta o parapeito das palavras
Eu por exemplo homem de pouco tempo
trazido pelos dias aqui estou
Continuo a dizer: se alguma coisa há
que podias perder e ainda não perdeste
de que já a perdeste podes estar derto
Falta-me a folha cinco
Estou com a barba feita
Ainda este ano talvez em marienbad
eu vi mulheres curtidas pelos lutos
Mal de morte é o meu
em plena posição de pé às três da tarde
em meio do movimento do rossio
sentado à tarde no cinema em dias de semana
Já caem carnes já se perdem pêlos
já quase só me resta a devoção
lisboa certos dias um amigo às vezes
Poucas coisas importantes pensei durante a vida
uma mesa de sol em pleno inverno
um mar incontroverso alguns papéis
- continua a faltar-me a folha cinco -
pois apesar de tudo nada consta
Ruy Belo, "Nada Consta", País Possível
abril 22, 2009
Hoje alguém se lembrou do Alberto a meio da tarde
Todos os dias agora acordo com alegria e pena.
Antigamente acordava sem sensação nenhuma; acordava.
Tenho alegria e pena porque perco o que sonho
E posso estar na realidade onde está o que sonho.
Não sei o que hei-de fazer das minhas sensações.
Não sei o que hei-de ser comigo sozinho.
Quero que ela me diga qualquer cousa para eu acordar de novo.
Quem ama é diferente de quem é.
É a mesma pessoa sem ninguém.
Alberto Caeiro, O Pastor Amoroso (IV)
abril 20, 2009
Ainda por cima o tempo anda tolo e o futebol aproxima-se do fim…
"Os Bêbados", José Malhoa, 1907
Finda a Páscoa e a Pascoela, na padaria reina a desolação. Impingem-se Martinis sem qualquer efeito imediato e as Sagres resvalam para a goela sem a galhardia de outros dias. Da janela do lado do esquecimento, única vitrina da vida, a senhora Guidinha repenica duas ou três doenças sem qualquer convicção nos transeuntes. Até o divórcio da Gininha, filha já de si bastarda da Dona Joana Lava Tachos, não empolga ninguém. Vá lá, ganhou o Benfica, o Porto e o Sporting mas os casos foram poucos, tirando a intranquilidade (diga-se que justa) do senhor Bento. Assaltos, barrelas, violações e pancadarias são aos montes (que saudades daqueles casos únicos, belos, irreais). O caso Freeport é de pouca monta (com tendências irritantes para se transformar numa saga) e a tensão entre corrupção para acto lícito e ilícito não ampara nenhuma destas cabecinhas, mesmo as informadas e com instrução por aí fora. É um coçar de cabeça sem limites. O cartaz da senhora da oposição encaixou dois ou três debates técnicos, entre o Luís das bicicletas, o Carlo Zarolho e o outro zarolho, filho do Dias. Sem grande impato, que isto das consoantes mudas já nem no jornal Record se usa, como bem afiançou o Miguel das novas oportunidades com a cabeça debaixo do braço.
Resta o desemprego, mas como diz o Alfredo, isso “não dá de comer nem de beber a ninguém”…
Adenda: eu por acaso gosto de consoantes mudas (roucas, mancas e criativas) e, diga-se, não as acho tão mudas assim.
abril 19, 2009
abril 18, 2009
citações inúteis
À medida que a humanidade se aperfeiçoa, o homem degrada-se. Quando tudo se reduz ao mero equilíbrio de interesses económicos, que lugar haverá para a virtude? Quando a natureza foi tão dominada que perdeu todas as forças originais, onde é que isso vai levar as artes plásticas? E assim por diante. Entretanto as coisas vão ficar muito sombrias.
Gustave Flaubert escreveu isto corria o ano de 1852.
abril 16, 2009
E uma mordaça?

Vocábulos como inútil (ex: o sr. deputado é um inútil) e chulice devem ficar numa espécie de purgatório (em análise).
Mantêm-se outros termos e expressões consideradas indispensáveis na verve parlamentar, a saber: duas caras; grunhir; oh, sr. deputado!; efectivamente; nomeadamente; num quadro de normalidade; cabrão; de facto; sistémico; olhe que não; pó caralho (dito entre dentes); paneleiro (em sussurro); estratégia global; pensar global agir local (e vice-versa); corno manso (caso a associação dos amigos do corno manso não se insurgir, obviamente); paradigma e indignação.
“As pessoas dizem que a vida é a realidade; mas eu prefiro a leitura”

Não será esse o grande delírio, a encenação fantasmática das nossas próprias ilusões?
abril 11, 2009
abril 09, 2009
De andaime em andaime
abril 08, 2009
A linguagem e o papagaio – ambos empalhados
Um pouco antes de 1984, um médico de carreira viúvo, que um dia havia sonhado ser escritor, tendo optado por seguir apenas medicina (dada a impossibilidade de fazer bem e ao mesmo tempo duas coisas), calcorreava as ruas de Rouen onde Flaubert nasceu e Croisset onde viveu. Eu pela mesma altura estava a braços com a instrução preparatória, ou até Liceal, onde por carga de água nenhuma se tinha pé em Flaubert. Mas como o rio era perto, tínhamos pé noutras coisas, sem dúvida, tanto ou mais, aliciantes. Foi perto desse rio que comecei a ler coisas mais sérias. Hoje, um pouco longe, mas por momentos sentindo o seu fresco (tinha dias) aroma leio:
Contra a estupidez do meu tempo, sinto correntes de ódio que me sufocam. A merda chega-me à boca como se tivesse uma hérnia estrangulada. Mas quero conservá-la, fixá-la, endurecê-la; quero formar uma pasta com a qual possa cobrir o século XIX, do mesmo modo que pintam os pagodes indianos com excrementos de vaca.
Gustave Flaubert citado in "O Papagaio de Flaubert"
abril 07, 2009
Voltar

Vai daí, já estou afadigado antes de escrever uma linha que seja. E mesmo junto às bandeirolas de canto, enfastiam-me as linhas. Uma pessoa acorda, levante-se e já está a morder qualquer coisa. Não bastava o atavismo e uma parafernália inusitada de adjectivos a reboque de um qualquer escriba de circunstância, ainda temos que mamar com más vontades e idiotismos juncados da mais pura ignorância. Apesar destes padecimentos, ao sr. Eng. ainda lhe sobra tempo para processar rapazolas que expressam opiniões na praça pública. Um cristo (sem aspas e com letra pequena), para ser fiel à época em que discorremos as nossas maleitas. Eu cá não aprecio as nossas “praças” actuais (quando existem) e muito menos as ditas “públicas”. E até tive conhecimento do dito muito desfasado no tempo. Mas o meu anacronismo não me serve de nada. Vivemos consagrados a redimir as nossas penas com artifícios mundanos. Vai daí, na voltinha do dia a dias, exalo-me para qualquer lado. Pode ser o século XII.