Ia escrever: terminei o Guerra e Paz, mas não se termina o Guerra e Paz. Continua-se. Escrevi algures:
Acabei o Guerra e Paz e agora o que
fazer?
Escrevi algures:
- Que fizeste da tua vida?
- Li o Guerra e Paz.
Continua-se. Cerca de mil e
seiscentas páginas, edição da Presença, mais de dois quilos de papel, quantas
palavras?, milhares, milhares de palavras, o tempo, o da leitura, o tempo,
noutro espaço, o da escrita. Outro tempo. Para desopilar reli outra vez o fim,
e fui reler, a propósito de um recente programa de rádio, “A lotaria da
Babilónia”, um conto de Ficções
(1944), de Jorge Luis Borges. Estou farto de ser salvo pelas palavras: como todos os homens da Babilónia, fui
procônsul; como todos, escravo; também conheci a omnipotência, o opróbrio, o cárcere:
Olhem: à minha mão direita falta-lhe o indicador.
Continua-se. Agora assim: