Enquanto avança
pelo longo corredor da ala ocidental do casarão, sente a sua solidão com mais
intensidade, mas também com mais prazer que nunca. O prazer é absolutamente
novo para ele e parece-lhe que está ligado à dor de avançar sozinho pelo
corredor familiar. Enquanto continua a caminhar por esse corredor, avança tão
profundamente na análise desse novo prazer, que acaba por temer a sensação de
entrar em terreno desconhecido, no espaço onde se encontram os limites da sua capacidade de pensar. É como se
tivesse chegado ao sítio onde já não pode ir mais além pensando. Sente uma
breve vertigem, como se já estivesse a avançar pelo corredor que conduz ao espaço
vazio que existe fora de toda a família humana, a começar pela sua. Desde que o
operaram, tem sentido, dia a dia, uma estranha expansão dos recantos ou, melhor
dito, das células do seu cérebro.
“Desaparece Daqui” (pp. 132.133), in Exploradores do Abismo, Enrique
Vila-Matas. Teorema. Tradução de Jorge Fallorca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário