It's life, John, but not as we know it.
«Os libertários foram os únicos que compreenderam que
o princípio de autoridade não perdeu nada da sua força – muito pelo contrário –
em democracia. (…) De facto, o poder democrático tem um efeito duplo. Por um
lado, ao apresentar-se como a expressão da vontade geral, tem facilidade em
manter o indivíduo sob a dependência da lei, considerada oriunda desta vontade
indiscernível, e o Estado é visto como representante do interesse geral face
aos interesses particulares. Por outro lado, o governo democrático não tem pejo
em afirmar-se como defensor natural dos direitos imprescritíveis da pessoa
humana no seio da colectividade. O círculo fecha-se.
Anónimo e impessoal por definição, o poder
democrático parece acima de qualquer suspeita. Como desconfiar de sistema que
se refere constantemente à vontade de todos? No entanto, é inquietante vê-lo
monopolizar assim o querer da Totalidade. Sendo o Todo considerado superior aos
elementos que o compõem, o interesse geral deve sobrepor-se aos interesses particulares.
De tal modo que, segundo este princípio, o governo democrático, único
interprete desta totalidade fictícia, se arroga o direito pessoal de definir e
determinar os limites do interesse geral. Cioso desse direito exclusivo, tende
a considerar ilícito qualquer interesse particular, cuja existência, numa
sociedade igualitária, não passa de uma tolerância provisória, concedida sob
reserva, em todo o caso severamente controlada e cada vez mais precária. De
direito, nada deve subsistir por si mesmo fora da Totalidade, pela qual o poder
democrático é o único a responder. (…) Actualmente, a necessidade de tudo
controlar leva-o à taxinomia: ficheiros, inventários, catálogos, etc. Com a
informática o imperium vê-se
finalmente na posse de um instrumento com que nem ousava sonhar.»
“História do Anarquismo” (pp.74-75), Jean Préposiet. Tradução de Pedro Elói
Duarte. Edições 70.
Nota:
registe-se que a primeira edição (em França) data de 1993.
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