agosto 29, 2012

Joga o Vila-Matas e se calhar o Renard


Eu cá cheguei ao Jules Renard através de uma desmarcação do Vila-Matas no Diário Volúvel. O Jules (até) estava cá em casa, ali no cantinho esquerdo das estantes, na decrépita secção poesia e arredores. Daí eu ignorava isto:
«O meu não come ratos, não gosta. Se apanha algum, é para [brincar com ele.
Quando brincou tudo, poupa-lhe a vida, e vai sonhar noutra parte,
[o inocente, sentado no caracol do seu rabo, a cabeça fechada [como um punho.
Mas, por causa das garras, o rato morreu.»
É “o gato” das Histórias Naturais*, um gato como este cá de casa, que gosta de sonhar longe quando não está por perto, e que brinca aos ratos com ratos verdadeiros. E se eles morrem já se sabe.
Poucas traduções portuguesas se encontram de Renard, parece. Em francês é fácil de encontrar, mas menos de ler. Entre outros, um dos passes de Vila-Matas, trazia esta frase de Renard: «Quando a preguiça te faz sentir infeliz, vale tanto como o trabalho». Tu queres ver…

 *in “poesia do século XX”, Antologia, tradução, prefácio e notas de Jorge de Sena. Asa.

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