Eu cá cheguei ao Jules Renard através de uma
desmarcação do Vila-Matas no Diário
Volúvel. O Jules (até) estava cá em casa, ali no cantinho esquerdo das
estantes, na decrépita secção poesia e arredores. Daí eu ignorava isto:
«O meu não come ratos, não gosta. Se apanha algum, é
para [brincar com ele.
Quando brincou tudo, poupa-lhe a vida, e vai sonhar
noutra parte,
[o inocente, sentado no caracol do seu rabo, a cabeça
fechada [como um punho.
Mas, por causa das garras, o rato morreu.»
É “o gato” das Histórias
Naturais*, um gato como este cá de casa, que gosta de sonhar longe quando não está
por perto, e que brinca aos ratos com ratos verdadeiros. E se eles morrem já se
sabe.
Poucas traduções portuguesas se encontram de Renard,
parece. Em francês é fácil de encontrar, mas menos de ler. Entre outros, um dos
passes de Vila-Matas, trazia esta frase de Renard: «Quando a preguiça te faz
sentir infeliz, vale tanto como o trabalho». Tu queres ver…
*in “poesia do
século XX”, Antologia, tradução, prefácio e notas de Jorge de Sena. Asa.
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