Relativamente à tarefa, restava-nos talvez aferir que: “Enfrentar e retribuir o ódio podia ser um sentido da vida, um costume, ou gozo; quase tudo era preferível ao tecto de chapas esburacadas, às secretárias poeirentas e cambadas, às montanhas de pastas e arquivadores encostados às paredes, às ervas daninhas pungentes que cresciam enredadas nos ferros da janela panorâmica desguarnecida, à exasperante e histérica comédia de trabalho”(…).
Não contentes, estorvamos a farsa, por exemplo, vendo o “Gran Torino”, Directed by Clint Eastwood, ou com a emoção na corda bamba do séc. XIX, lendo que:” O aparecimento da vulgaridade costuma ser útil muitas vezes na vida: ela alivia as cordas demasiado tensas, atenua os sentimentos de presunção ou de falta de respeito próprio, lembrando-lhes o seu parentesco com eles(…)”. Não há nada de mal nas coisas truncadas. A própria realidade é hoje um autêntico inventário de acontecimentos truncados. Resta-nos um filtro, ou ir fumando e cuspindo os restos que se pegam aos lábios e língua.
A primeira citação, ou muleta truncada é pertença do Sr. Onetti. Juan Carlos Onetti era um jovem Uruguaio quando publicou “ O Estaleiro” em 1961, data em que, obviamente, Sofia Castro Rodrigues e Virgílio Tenreiro Viseu, não faziam a mínima ideia que iriam vertê-lo para a língua portuguesa 40 anos depois através de uma edição Ulisseia. Eu próprio não fazia a mínima ideia, claro está, que iria juntar todos estes trapinhos aqui.
Ali, a segunda truncadisse, sempre me pareceu uma ideia. Uma Ideia é coisa muito séc. XIX. Pertenceu à pena de Ivan Turgéniev, em “Pais e Filhos”, páginas 118 e 119, da edição portuguesa dos Clássicos da Relógio de Água, traduzida (do Russo, pois) por António Pescada.