Um homem está em casa e liga a televisão, note-se, liga a televisão e um acaso leva-o à SIC onde se expõe solenemente em debate o “problema” da segurança. “Portugal está a ficar mais perigoso?”, rejubila uma voz em off, uma, duas vezes, entre ligações directas, indirectas e em estúdio, rapidamente, sempre a capitalizar um efeito, digamos, abrangente. Sempre os mesmos e mais alguns, as “vítimas”, entretêm o telespectador incauto. Nas entrevistas, se por acaso alguma das tais “vítimas” não enriquece a “sentença” com algum sangue ou sofrimento, o dito jornalista, em directo, rebate com um “mas deve ter sofrido?"; tudo devidamente encaixado em demagogias de lupanar e vendetas à casa. É um jornalismo (sem reportagem e sem nervo) de pacotilha, sempre, mas sempre, mal falado, “espectacular” e deprimente. Solitário, experimento um discurso inflamado contra a parede branca. Abro uma cerveja e volto aos livros:
As surpresas começaram aqui; assim que começaram, multiplicaram-se; surgiram em torrente: era como se, do modo mais estranho possível, todas tivessem sido mantidas na retaguarda, aglomeradas num denso novelo, à espera do entardecer da vida, do tempo em que o inesperado já não acontece à maioria das pessoas.
“A Fera na Selva”, Henry James
Nunca mais chega o Outono…
As surpresas começaram aqui; assim que começaram, multiplicaram-se; surgiram em torrente: era como se, do modo mais estranho possível, todas tivessem sido mantidas na retaguarda, aglomeradas num denso novelo, à espera do entardecer da vida, do tempo em que o inesperado já não acontece à maioria das pessoas.
“A Fera na Selva”, Henry James
Nunca mais chega o Outono…
2 comentários:
tem razao a Tv está uma boa m...
quanto ao resto o trecho citado encaixa em cima como luva.
Nunca li H. James. Recomendas?
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