(continuação daqui)
Sabática nem vê-la. Fui ao fundo do fundo buscar coragem e
acabei por arranjar um manual indicado para a leitura (deixem passar) de grandes
calhamaços, enquanto providenciamos pães de ração através da força do nosso
trabalho. Numa dessas noites, após a dose de cervejas diária, sonhei com Paul
Lafargue (meu deus, em vez de sonhar com ninfas de dentes afiados) e o seu “O
direito à preguiça”, acordei todo suado e com o cérebro a indicar-me
variadíssimas direções. Todas elas indefinidas. Não se pode confiar no nosso
próprio (deixem passar) cérebro. Apenas nesse momento, antes do pequeno-almoço,
percebi que ao ler um manual para a leitura de grandes calhamaços, passam a ser
dois livros em vez de um que temos de ler. Fiquei todo contente com esta minha
ideia que era ao mesmo tempo uma evidencia e deixei o manual para trás, não sei
bem onde. Consegui finalmente começar a ler o Central Europa, uma edição de apenas quinhentos exemplares, um
quilograma e picos de livro, mais de novecentas páginas (dados do Gabriel),
dois pares de óculos, alguns livros de reserva para o caso da coisa correr mal,
uma enciclopédia para embelezar o quadro e algumas rações de combate,
providenciadas pela força do meu trabalho que continuei a realizar sem qualquer
tipo de alegria e com o Lafargue à perna. Todos os dias ia para o trabalho com
esta imagem de fundo:
e esta:
Depois de uma grande dor nas costas, doze dores nos olhos
(não consecutivas), e uma sensação de estranheza na clavícula (porquê?), lá fui
ler outra vez. Um mês (ou quase) entre despertadores, dores, almoços, lanches, centenas
de cervejas e duas (pelo menos) derrotas do Sporting, acho. Sempre a trabalhar
e a ler quando podia. Quando acabei senti-me possuído por uma grande tristeza,
uma daquelas tristezas que experimentava quando era pequeno e uma novela
acabava, ou uma coleção de cromos do Sandokan acabava, uma sensação de vazio acompanhada
de um uuf, que mais ou menos se poderá traduzir por: finalmente.
Eu já volto com a análise técnico táctica da obra Central Europa, de William T. Vollmann. Obrigado.
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