Perguntei pelos burrinhos de Cacilhas, e o maganão a quem fiz a
pergunta disse-me que procurasse uns no Ministério e outros no Parlamento. Era
um desses Voltaires do Chiado que fazem espírito, mesmo à custa dos seus
parentes e amigos.
outubro 26, 2017
outubro 22, 2017
outubro 21, 2017
resumo da semana
(…)
é preciso trabalhar,
se não por gosto, ao menos por desespero, porquanto, bem vistas as coisas,
trabalhar é menos aborrecido do que divertir-se.
Baudelaire, "O meu coração a nu"
outubro 20, 2017
Que farei quando tudo arde*?
Frequentei Engenharia Florestal
no início dos anos noventa do século passado. Já nessa altura tínhamos a época dos incêndios, mas a época
preferida era a dos subsídios, que normalmente durava todo o ano, sem qualquer
fiscalização. Nunca, como então, existiram tantos projectos imaginários. O dinheiro
circulava, mas apenas alguns conseguiam apanhar boleia. Em algumas dessas
boleias foram exauridas as verdadeiras hipóteses de uma reforma florestal
planeada. Para isso seria necessário pensar o país como um todo. E o país,
nessa altura, tinha a forma de uma betoneira.
Na época dos subsídios o eucalipto
começava a dar cartas. As monoculturas florestais, eucalipto e pinheiro,
caminhavam de mãos dadas com o despovoamento do interior. Não lhe chamem, por
favor, desertificação. Vegetamos, é certo, mas ainda não somos uma espécie
vegetal. Com o país a sonhos, modernos, construímos auto-estradas, urbanizações
desreguladas, feias, cidades esquecidas da sua história e património (isso veio
muito depois), e abandonamos, com enfado, a agricultura. Vieram as ligações público-privadas,
os aviões, os helicópteros, as comunicações via satélite. Festejávamos (e festejamos)
a época dos fogos com foguetes.
Afinal, as bouças eram boas como depósitos de lixo, de abandono, e algum sexo à
beira das estradas.
Eternas reformas adiadas, ou
parcialmente esquecidas, eternos estudos e debates depois, chegamos ao caos de
2017. Ainda existe uma época definida para os incêndios (como é possível?), a denominada
fase Charlie, que acompanha a silly
season , sem saber que a silly season em Portugal se vem diluindo, alargando as
suas fronteiras. Basta ligar a televisão. Parece que tudo falhou. Vem no
relatório da comissão independente. Parece que fenómenos climatéricos únicos confluíram
em conspiração odiosa. No final, continuámos a falhar. Falhámos cada vez
melhor, sei do que falo, sou sportinguista. Só que desta vez morreram muitas
pessoas. Demasiadas. Nas ruas, protestos, apenas em frente das televisões. Nem
sequer uma onda de indignação, a não ser nas páginas amarelas das redes
sociais. Dançam algumas cadeiras. Não tarda voltamos à normalidade dos estudos.
outubro 15, 2017
A Catalunha, por exemplo
Não me interessa se o ditador é destro, canhoto ou maneta. Sé
é pequeno ou se já torceu o pepino várias vezes. Não me interessa se é moderno
ou proto clássico. Não me interessa se o ditador é um democrata. Essa t-shirt é
vendida na Zara. Ou na H&M, não sei bem. Não gosto de ditadores nem de ditadorzinhos.
Sei alguma coisa de mapas para saber que eles são obra humana. O mesmo serve
para as fronteiras. Socorrendo-me de Cardoso Pires, sei bem que, como português,
quando nasci, deixei logo de ser criança, passei a ter nove séculos. Outros
sentirão o mesmo sob outro nome. Talvez não tão envelhecidos. Outros sentirão o
mesmo sob outra bandeira. Talvez não saibam que as bandeiras são coisas de
homens. Mas se assim tão importante uma bandeira e um país deixem que sejam os
homens e as mulheres a decidir isso. Não decidam por eles.
outubro 03, 2017
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