novembro 04, 2014

Mas o esquecimento não é o outro nome da liberdade


Somente a terra conhecida, medida, cadastrada, foi retalhada pelas gentes da Europa: roubou-se por toda a parte, como num bosque; os paraísos são empresas comerciais de cobalto, de amendoim, de borracha, de copra; os selvagens virtuosos são clientes e escravos; os padres de todos os deuses brancos puseram-se a converter os idólatras, os fetichistas, a falar-lhes de Lutero, e da Virgem de Lourdes, a levantar-lhes as calcinhas de Chez Esders. Com a Eucaristia, veio o trabalho forçado de Brazaville-Océan. Assim se reduziram ao silêncio aqueles mesmos de quem os nossos pais esperavam os segredos. Tudo bem: a prece e o absinto entram na liça (…)

Paul Nizan, "Aden-Arábia". 

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