Ludovico
aproveitou esses longos momentos de lazer para recitar a Fabrício alguns dos
seus sonetos. Os sentimentos eram bastante justos, mas como que enfraquecidos
pela expressão, e não valiam o trabalho de ser escritos; o singular era que
este ex-cocheiros tinha opiniões e maneiras de ver vivas e pitorescas; mas
tornava-se frio e vulgar desde que se punha a escrever. «É o contrário do que
vemos no mundo – pensou Fabrício – ; agora sabe-se exprimir tudo com elegância,
mas os corações não têm nada para dizer.» Compreendeu que o maior prazer que
podia das àqule criado fiel era corrigir os erros ortográficos dos sonetos.
– Fazem pouco de mim quando mostro o meu
caderno – dizia Ludovico –; mas se Vossa Excelência de dignasse ditar-me a
ortografia das palavras letra por letra, os invejosos já só poderiam dizer: «Não
é a ortografia que faz o génio.».
“A Cartuxa de Parma” (pp.212), Stendhal. Tradução de Adolfo Casais Monteiro. Relógio d’Água.
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2 comentários:
mas ajuda:)
grande livro, com um início absolutamente brutal:)
até lá
às vezes lá vai qualquer coisa:)
é um clássico daqueles imprescindíveis, tem de tudo lá dentro...
abraço
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