janeiro 26, 2013

Não é a ortografia que faz o génio



Ludovico aproveitou esses longos momentos de lazer para recitar a Fabrício alguns dos seus sonetos. Os sentimentos eram bastante justos, mas como que enfraquecidos pela expressão, e não valiam o trabalho de ser escritos; o singular era que este ex-cocheiros tinha opiniões e maneiras de ver vivas e pitorescas; mas tornava-se frio e vulgar desde que se punha a escrever. «É o contrário do que vemos no mundo – pensou Fabrício – ; agora sabe-se exprimir tudo com elegância, mas os corações não têm nada para dizer.» Compreendeu que o maior prazer que podia das àqule criado fiel era corrigir os erros ortográficos dos sonetos.
  – Fazem pouco de mim quando mostro o meu caderno – dizia Ludovico –; mas se Vossa Excelência de dignasse ditar-me a ortografia das palavras letra por letra, os invejosos já só poderiam dizer: «Não é a ortografia que faz o génio.».

“A Cartuxa de Parma” (pp.212), Stendhal. Tradução de Adolfo Casais Monteiro. Relógio d’Água.

2 comentários:

Gerónimo Cão disse...

mas ajuda:)

grande livro, com um início absolutamente brutal:)

até lá

Gabriel Pedro disse...

às vezes lá vai qualquer coisa:)

é um clássico daqueles imprescindíveis, tem de tudo lá dentro...
abraço