Companheiro de luta Cavaco: não se inquiete.
Companheiro de luta Cavaco?... ei, companheiro de luta Cavaco? Ah!, não faz
mal, bem sabíamos que o companheiro não andava por aí, consegue estar por perto
sem andar por aí, ou por aqui, e sem ver, quer dizer, a olhar sem ver, é um
sinal de que o silêncio germina mesmo nos locais mais inóspitos. Não será o mesmo silêncio dos nossos dentes a
rasgar a pele, nem o silêncio das noites sem dormir, esse silêncio amplo que
nos acolhe em cachos e cuja membrana se cola ao corpo resistindo ao duche e à
pedra-pomes, vossa excelência exala essoutro silêncio mofento das penumbras
mais recônditas, dos acatares sombrios da mais tenebrosa indiferença, vossa
excelência, creia-me, está tão imbuído do tempo antigo que o confunde com as autoroutes por vós tão agigantadas e que
nos levam a lado nenhum. Os conselhos do companheiro, não duvide, foram
escutados aqui na rua: já não escondemos as adulações mas em breve esconderemos
a realidade. A vizinha de cima lá vai plantando flores, mas como ninguém (até ver) as
come, entremeia com tangerinas e limões que não colhe, e além estruma um talhão
com meia dúzia de couves e alfaces. O da frente lá vai mijando nos canteiros
sempre que pode, demarcando o seu território de meia rua, para ele nada melhor que
os produtos agrícolas made in continente ou
made in pingo doce, fresquinhos e
encerados, que a vida custa a todos. A Farrusca já não aparece, anda a cavalo
pela sua propriedade de 20 metros quadrados a tentar perceber o que de melhor
ali se dá, seguindo o conselho do
companheiro Cavaco de voltarmos à lavoura, essa mesma que o companheiro
empacotou em remessas enviadas com a nossa alma nos idos noventa, para a tal de
Europa, quando éramos modernos. Os fantasmas da frente esquerda-cima
confundem-se com reposteiros de época, parece que vão tentar a sorte como
figurantes de um filme do Oliveira. Os outros aguardam os saldos para comprar
oleados: vamos todos dedicar-nos à pesca. Não se inquiete, seguimos os seus conselhos. Quem anda à chuva molha-se.
[pescaria]
4 comentários:
na mouche, ou isso:)
para mais, os acatares sombrios:)
até
:) aqueles acatares são sempre sombrios, não?
já lá passo...
hasta
texto fixe, vizinhança interessante.
de acordo consigo quanto ao sr silva...
DD
:) já não é pouco
apareça
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