«Salvo nas severas páginas da história, os factos
memoráveis prescindem de frases memoráveis. Um homem a ponto de morrer tenta
evocar uma gravura vislumbrada na infância, os soldados que estão para travar
batalha falam da lama ou do sargento. A nossa situação era única e,
francamente, não estávamos preparados. Falámos, fatalmente, de letras; receio
não ter dito outras coisas além das que costumo dizer aos jornalistas. O meu alter ego acreditava na invenção ou
descoberta de novas metáforas; eu, nas que correspondem a afinidades íntimas e
notórias e que a nossa imaginação já aceitou. A velhice dos homens e o ocaso,
os sonhos e a vida, o correr do tempo e da água.»
“O Outro”, in O
Livro de Areia (obras completas, III), J.L.
Borges. Tradução de António Sabler. Teorema.
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