outubro 30, 2012

A avó: o espectro sublime



«Houve então algo que fez estremecer os marceneiros, que foi ver a velha Lorrain, aquele espectro sublime, de pé à cabeceira da sua menina. O terror e a vingança insinuavam as suas chamejantes expressões em milhares de rugas que lhe franziam a pele de marfim amarelecido. Aquela testa encimada de esparsos cabelos grisalhos exprimia a cólera divina. Com aquele poder de intuição que é próprio dos velhos perto da sepultura, lia toda a vida de Pierrette, na qual, de resto, pensara durante a viagem. Adivinhou a doença de rapariga que ameaçava de morte a sua menina querida! Duas grossas lágrimas penosamente brotadas dos seus olhos brancos e cinzentos, a que os desgostos haviam arrancado pestanas e sobrancelhas, duas pérolas de dor formaram e lhes transmitiram uma assustadora frescura; foram engrossando e rolaram-lhe pelas faces ressequidas sem as molhar.»

“Pierrette” (pp. 127), Honoré de Balzac. Tradução de Pedro Tamen. Relógio D’Água.

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