«Houve então algo que fez estremecer os marceneiros,
que foi ver a velha Lorrain, aquele espectro sublime, de pé à cabeceira da sua
menina. O terror e a vingança insinuavam as suas chamejantes expressões em
milhares de rugas que lhe franziam a pele de marfim amarelecido. Aquela testa
encimada de esparsos cabelos grisalhos exprimia a cólera divina. Com aquele
poder de intuição que é próprio dos velhos perto da sepultura, lia toda a vida
de Pierrette, na qual, de resto, pensara durante a viagem. Adivinhou a doença
de rapariga que ameaçava de morte a sua menina querida! Duas grossas lágrimas
penosamente brotadas dos seus olhos brancos e cinzentos, a que os desgostos
haviam arrancado pestanas e sobrancelhas, duas pérolas de dor formaram e lhes
transmitiram uma assustadora frescura; foram engrossando e rolaram-lhe pelas
faces ressequidas sem as molhar.»
“Pierrette” (pp. 127), Honoré de Balzac. Tradução de Pedro Tamen. Relógio D’Água.
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