abril 29, 2010

cenas antigas

Resto zero

Na padaria as (tais) agências reivindicam outro ranking. Os peixes amarelos, vulgo classe aburguesados, esperneiam minis na melancolia da esplanada. “Como é que é possível, estes gajos da economia que nos foderam de coentrada recentemente, tenham ainda palavra para nos endrominar na questão grega?”-  perguntava um martini a um porto adormecido. Um whisky a preceito interrompeu-os por antecipação, com a desmama habitual: “bote aí dois pãezinhos de água e já agora uma natinha…”.

 

 

abril 23, 2010

A norte

A névoa do Sr. Domingos espraia-se desde Braga até aos confins do nosso mundinho. Ninguém levanta voo. O seu cadáver (domingos santos) engelha os nossos horizontes até ali, digamos Tui, onde se vislumbram ainda as bandeirinhas anti Scolari, plantadas pelos nossos em Valença do Minho. Hoje passei perto do local da batalha de São Mamede, um local enfermo onde a poesia defeca cinzas avulso para o belo Ave. Somos todo um festim. Gente madura. Quase a cair.

Eu sou uma pedra

Depois do jantar...

abril 18, 2010

daqui não se vê nada

Da rua da estrada o que se vêem são pequenos desvarios a espreitar o longínquo outdoor. As famílias, quase todas, desaguam na ruela, outrora principal, que vai dar à loja de móveis ali ao lado de mais um chinês. Ao meio, um café. E faz sol neste quadro que infringe as regras do domingo tradicional, após um repasto lavrado em forno eléctrico, começado com o vigor matinal. Já faz whisky, quando escrevo estas margens de erro, após uma conversa literária ao jantar domingueiro, que já não incluiu os famosos restos do almoço, adornados de salsichas e ovos fritos. Faz frio, neste ocaso de memórias que se misturam com a frase: amanhã pica o boi.   

abril 17, 2010

Leopoldo Lugones

Olharam-se então; e o que havia em seus olhos não era delícia senão dor. Algo tão distante do beijo, que nele cabia a eternidade.

in "Francesca".

abril 16, 2010

Por exemplo

“O que se passa no mundo?” – terá perguntado. Longe de casa, e segundo parece, ainda inteiro, escutava com o seu melhor ouvido um tal de Tom Waits. Por exemplo:

abril 10, 2010

Todos ao congresso

Apesar das tecnologias de informação, e dos rascunhos de edificação do nosso primeiro-ministro, individualizados naquelas verdadeiras obras de génio disponíveis na paisagem das beiras; apesar do Magalhães e do tio Zé que cumpriu as novas oportunidades em 3 minutos, 52 segundos e 3 centésimos, perder a caderneta da caixa a uma sexta-feira pode ser um verdadeiro berbicacho.

abril 09, 2010

claustros

Final ainda de sexta-feira, após bife. Um branco inválido acompanha o cigarro. Aqueceu. E a menina dos dias está longe. Estava aqui a pensar em reler o “1984”, assim de jacto, enquanto o whisky não se insinua entre súplicas de gelo. Ah, mas o IRS, até, até quando estará o IRS na berlinda da net, entre variadíssimos planos estratégicos?.... 
Na penumbra política, parece que temos mais um bailador de todas as viagens. O país ensurdece enquanto remoí tantos silêncios. Venha a mulher-a-dias, rapinar estes gestos inúteis.

um gajo vai a conduzir e leva com isto...

abril 08, 2010

E, sem nos apercebermos, uma espécie larvar de ferrugem prospera nos sonhos. Um destes dias deixo completamente de parte o caderninho de companhia. Vou ter saudades sobretudo da capa preta.

abril 04, 2010

abril 02, 2010

e depois

O mais próximo possível que estarás da felicidade: um bom naco de prosa

Era em Julho, numa tarde quente, e no seu rosto brilhante de suor faiscava um bom humor bárbaro. Enquanto ziguezagueava entre os seus camaradas, um largo sorriso abria-se-lhe nos dentes brancos. Os outros marinheiros eram homens de todas as origens e compleições, de sorte que Anarchasis Cloots bem os podia ter feito figurar como representantes da raça humana na primeira Assembleia Francesa. A cada tributo espontâneo prestado a este pagode negro – o tributo de uma pausa e de um olhar, ou, mais raramente, de uma exclamação – aquela turba variegada dava boas provas de um orgulho que se assemelhava, sem dúvida, ao dos sacerdotes assírios prosternados diante do grande touro de pedra.

In “Billy Budd”, do Sr. Herman Melville