Hoje comecei logo por entardecer. Boas notícias, espalhadas em panfletos televisivos falavam do défice. Boas novas, as graças governativas encaixam-nos 1 % (sim, UM) da descida do IVA. Grande merda - miou o gato. Ainda quinze dias antes era, de todo, impossível, rosnava um arauto do poder. Mas há quanto tempo não vejo televisão?... Decidi-me pela padaria.
O Sr. Dionísio, que não tinha nada de grego, assolapado, na sua eterna cadeirinha, desembocou sua sentença: “Isto agora vai”. Luisinha, que sabia de tudo um pouco e cuja ciência era estimulada pelas revistas lidas no cabeleireiro, examinava a dona quase velhota de fio a pavio, simulou um esgar, enquanto se empoleirava no argumento, sempre sábio, de que “eles é que comem…eles é que comem”. Fiquei sem perceber ao que vinha, enclausurado nesse “eles é que comem”.
Chegado ao balcão, entrevi, camuflado atrás do jornal, um Sr. cuja elegância competia com a sensibilidade de uma placa de cimento, observando-me, em seguida, com olhar cúmplice ”eu dava-lhe a comidinha” e sorriu. Aquiesci. Eu também lhe dava a comida.
“Santinha, são dois pães de água e quatro Whiskys…” E saí.
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