Gosto dos títulos de alguns livros de Ray Bradbury: “A morte
é um acto solitário”; “Teremos sempre Paris”; “Um cemitério para Lunáticos”; “Fahrenheit
451”. “Fahrenheit 451” e “A morte é um acto solitário” são imprescindíveis ao atravessamento
do mundo de uma forma minimamente diligente. Teremos sempre Paris, We'll always have Paris é uma deixa
inesquecível de Casablanca, embora subalterna a Play it again, Sam, esta última, segundo parece, nunca dita, pelo
menos dessa forma. Apesar disso, acabou num filme escrito e protagonizado
por Woody Allen, embora realizado por Herbert Ross. A vida tem dessas coisas. Teremos sempre Paris, de Bradbury, na edição portuguesa da Bizâncio, apresenta-se, legitimemente, como uma das piores capas atribuídas numa edição em língua portuguesa a um escritor que se consiga ler sem vomitar. Aquela imagem do velhinho em pano de fundo, as cores escolhidas, o tipo de letra, tudo contribui para estarmos perante uma obra ligada ao oculto sensaborão, induzindo em erro os menos atentos. No conto Massinello Pietro, Bradbury escreve: Olhou à sua volta, o mundo estava cheio de estátuas, como ele outrora tinha sido. Havia tantas pessoas que já não conseguiam mexer-se, nem sequer sabiam como haviam de começar a andar outra vez para qualquer lado, para trás, para a frente, para cima, para baixo, porque a vida os tinha picado e aturdido e batido até ficarem num silêncio de mármore. Bradbury, escritor (também) de ficção cientifica, perceberia hoje que a realidade ultrapassa e, muito, a ficção. Acho que ele sabia disso...
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