– De certeza
que atiraram a arma à lagoa. – O comissário falava, meio perdido. – Há muitas
facas no fundo do rio. Quando era pequeno mergulhava e encontrava sempre…
–
Facas?
– Facas
e mortos. Um cemitério. Suicidas, bêbados, índios, mulheres. Cadáveres e mais
cadáveres debaixo da lagoa. Vi um velho, um dia, o cabelo comprido e branco tinha
continuado a crescer-lhe e parecia um tule na água transparente.
– Deteve-se. – Na água o corpo não se
corrompe, a roupa sim, por isso os mortos flutuam nus entre as ervas. Vi mortos
pálidos, de pé, com os olhos abertos, como grandes peixes no aquário.
“Alvo noturno” (pp.61-62), Ricardo Piglia. Tradução
de Jorge Fallorca. Teorema/leya.
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