setembro 02, 2012

Se os túmulos falassem


«O que ao visitante causa grande espanto é ver aqui Afonso Henriques, quando ainda não há muitos dias o deixou à porta do Castelo de Guimarães, mais o seu cavalo, ambos muito cansados. Repreende-se por estar brincando com coisas sérias, e encara primeiro Afonso, depois Sancho, um que conquistou, outro que povoou, vê-os deitados sob estes magníficos arcos góticos e decide em seu coração de viajante que neste lugar se celebram quantos desde aquele século XII lutaram e trabalharam para que Portugal se fizesse e perdurasse. Se se levantassem as tampas destes túmulos veríamos um formigueiro de homens e mulheres, e alguns seriam os que tiraram estas pedras da pedreira, as transportaram e afeiçoaram, e, sentados nelas, na hora do jantar, comiam o que mulheres tinham cozinhado, e se o viajante não põe aqui ponto final é a história de Portugal que acabará por ter de contar.»

“ Viagem a Portugal” (pp.228-229), José Saramago. Caminho.

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