«O que ao visitante causa grande espanto é ver aqui
Afonso Henriques, quando ainda não há muitos dias o deixou à porta do Castelo
de Guimarães, mais o seu cavalo, ambos muito cansados. Repreende-se por estar
brincando com coisas sérias, e encara primeiro Afonso, depois Sancho, um que
conquistou, outro que povoou, vê-os deitados sob estes magníficos arcos góticos
e decide em seu coração de viajante que neste lugar se celebram quantos desde
aquele século XII lutaram e trabalharam para que Portugal se fizesse e
perdurasse. Se se levantassem as tampas destes túmulos veríamos um formigueiro
de homens e mulheres, e alguns seriam os que tiraram estas pedras da pedreira,
as transportaram e afeiçoaram, e, sentados nelas, na hora do jantar, comiam o
que mulheres tinham cozinhado, e se o viajante não põe aqui ponto final é a
história de Portugal que acabará por ter de contar.»
“ Viagem a Portugal” (pp.228-229), José Saramago.
Caminho.
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