«Podemos dizer que o único que certamente cumpre
uma finalidade, no meio disto tudo, é Agilulfo. Não falo do seu cavalo, não
falo da sua armadura, mas de qualquer coisa de solitário, de preocupado
consigo próprio, de impaciente, viajando a cavalo dentro da armadura. À volta
dela as pinhas caem dos ramos, os ribeiros correm entre os calhaus, os peixes
nadam nos ribeiros, as lagartas roem as folhas, as tartarugas arrastam-se com o
duro ventre pelo chão, mas, no entanto há uma ilusão de movimento, um perpétuo
vaivém, como o agitar das ondas. E nestas ondas Gurdulú vai e vem, prisioneiro do jogo das coisas, espalmado, também ele, na mesma massa, com as pinhas, os
peixes, as lagartas, as pedras e as folhas, mera excrescência da crosta do
mundo.»
“O cavaleiro inexistente”, (pp.145-146), Italo
Calvino. Tradução de Fernanda Ribeiro. Teorema.
[peão]
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