maio 14, 2009

E tudo assim, desde tempos imemoriais

Passarão dias antes que Drogo perceba o que aconteceu. Então, será como um despertar. Olhará em redor, incrédulo; depois sentirá um rumor de passos que se aproximam atrás de si, e verá os que despertaram primeiro que ele correndo ofegantes e ultrapassando-o para chegar cedo. Sentirá o pulsar do tempo a marcar avidamente o compasso da vida. Às janelas já não se assomarão figuras risonhas, apenas rostos sérios e indiferentes. E se ele perguntar se ainda falta muito para chegar, também estes farão um gesto a indicar o horizonte, mas desprovido de bondade e alegria. Entretanto perderá de vista os companheiros, um porque ficou para trás, exausto, outro porque se adiantou, fugindo, e agora não é mais do que um ponto minúsculo no horizonte.

“O Deserto dos Tártaros” (pp. 51), Dino Buzzati, tradução de Margarida Periquito, Edição Cavalo de Ferro,  2005

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