Depois lembrei-me que os Smiths até têm uma música (creio que se chama "That Joke isn’t Funny Anymore") em que o Morrisey canta com indolência a queda, a sua e a dos outros. Ele viu-os. Por isso já nem é anedota e por certo não terá piada pois é demasiado perto de casa (lar) e junto ao osso. Ia a pensar nisto quando me ocorreu que já tinha pão em casa, logo não precisava de ir à padaria, e que todos estes pensamentos, afinal, me recordavam outras caminhadas sem norte que as valha. Decidi continuar quando reparei que a minha t-shirt nova (que não largo há 3 dias) se enquadrava bem neste passeio labiríntico que é a vida. Pensei em Sebald, nas suas intermináveis caminhadas, nos seus medos e nos encontros e desencontros da sua escrita. Mais uma encruzilhada e de repente tudo coincide num ponto. Chegado a casa optei por adiar a sandes estratosférica que ando a congeminar, devidamente encaixada numa base de dados de sandes que estou a criar e a compilar para quando concretizar o sonho de ter uma roulote de comes e bebes com música e biblioteca chamada “Andanças com Heródoto e Borges” (o nome é roubado). Dizia eu que adiei a sandes e abri um livro e li: Para onde vão eles, os mortos de Buenos Aires e São Paulo, da Cidade do México, Lagos e Cairo, de Tóquio, Xangai e Bombaim? Um mínimo, talvez para a cova fria. E quem se lembra deles, quem se há-de lembrar? Recordar, guardar e conservar, escreveu Pierre Berteax já há 30 anos sobre a mutação da humanidade, só teve uma importância vital num tempo em que a densidade da população era baixa, poucos os produtos que fabricávamos e só o espaço era abundante. Não se podia prescindir de ninguém, mesmo depois de morto.
Isto escreveu-o W.G. Sebald num texto denominado Campo Santo, que faz parte de uma compilação homónima editada pelo teorema. Decidi voltar à confecção da sandes.
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