(…) no catecismo das virtudes e dos méritos do homem civilizado ocidental, se inclui a capacidade histórica, que é quase a principal, de adquirir capitais. Mas o russo não só é incapaz de adquirir capitais, como os esbanja em vão de um modo indecoroso. No entanto para nós russos, o dinheiro também é necessário e por isso gostamos muito e estamos sequiosos por tais meios, como por exemplo a roleta, que nos permitem enriquecer de repente, em duas horas, sem trabalhar. Isso cativa-nos muito; e como jogamos de qualquer maneira, sem objectivo nem esforço, perdemos”
Dostoiévsky, “O Jogador”
Para a coisa ser mais quentinha à portuguesa, podemos substituir a roleta pela lotaria ou actualizar para o euromilhões, e depois acrescentar a Nossa Senhora, em qualquer das versões disponíveis.
Acresce, sem mudar muito de assunto, que os falsos moralismos só nos trazem amarguras. Fala-se dessa tal de promiscuidade (muito em voga) dos políticos com as empresas, municípios com a bola, tios e primos, cunhados e afilhados, tudo ao monte, como se fosse coisa nova, tratando-se do assunto com a roupagem do “lado actual da barricada”. Se conhecerem um pouco de história e recuarem, por exemplo, até ao séc. XIX (onde vivo actualmente), para não ir mais longe, já está lá tudo, sem o telemóvel e o Magalhães, sem o frigorífico e a fruta, é certo, mas com o mesmo ar avinhado em compadrio. É um lastro. Chama-se normalidade.
janeiro 27, 2009
oh!, não é o Eça…nem o Flaubert
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