Eu gosto muito do meu país, mas não tenho muitas ilusões sobre
ele. É um país atrasado, pouco desenvolvido, sem massa crítica, pouco culto,
sem grande qualificação da mão-de-obra, muito dependente de vagas de
superficialidade, onde a maioria das pessoas trabalha duramente para não
receber sequer o mínimo vital, sem vida cívica autónoma do Estado, com uma
economia débil, desindustrializado, com uma agricultura desigual, pouco
cosmopolita, com muitos aproveitadores e alguns bandidos, mas aí como os
outros. É um país que cada vez menos tem autonomia política, dependente da
transferência dos centros de decisão para Bruxelas. Aquilo em que somos
melhores não coloca o pão no prato ao fim do dia, como agora se diz. Temos uma
língua e uma literatura de valor universal, a melhor obra dos portugueses, mas
ninguém come literatura. E temos uma democracia que é um valor que só quem sabe
o que é ditadura percebe qual é.
(José Pacheco Pereira, aqui)
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