janeiro 30, 2018

Um mosquito no inverno


Estava para ali a fazer umas limpezas e a pensar na morte da bezerra, decidindo-me por meter um CD dos Jesus And Mary Chain,  “Barbed Wire Kisses” (um B-sides and more), comprado sabe lá onde Judas perdeu as botas, há muito tempo atrás (é verdade), quando nisto passa o “psycho candy”.


Eu que bebia copos de absinto (desculpa lá Cesário), perdão, eu que estava a pensar em escrever qualquer coisa sobre os Jesus, a importância do seu primeiro álbum, intitulado Psycocandy (1985), do qual não faz parte o tema psycho candy, quer dizer, ia escrever sobre aqueles anos oitenta, a Escócia, East Kilbride, a sua cidade de origem, uma das New Tows criadas no final dos anos quarenta, fazendo parte da grande conurbação urbana de Glasgow, patatipatá, aquela coisa da transição pós-industrial (ainda devedora da revolução industrial), sabemos que os irmão Reid trabalharam numa fábrica, entre cervejas, e a sua importância na música destes.

Pensava em tudo isso que iria escrever, quando de repente (passava a música), comecei a sentir a ascensão irremediável das lavas do subconsciente, não a ascensão irremediável das lavas do sobreconsciente (isso, sabemos, leva à loucura), de que nos fala Vila-Matas logo no início da sua “História Abreviada da Literatura Portátil”, não, era o subconsciente a fazer das suas, juntamente com a memória mais recôndita, e dei por mim a dançar, o sol entrava todo por ali dentro e eu dançava. Foi então que um mosquito me deve ter entrado no olho, humedecendo-o ligeiramente. Mosquitos em Janeiro? – pensei. Isto anda tudo tolo. E fui ouvir o “sidewalking” que já estava a passar no tijolo da cozinha.  

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