janeiro 11, 2017

um revólver de coral dava muito jeito


Meu avião em chamas meu castelo inundado de vinho do Reno

meu gueto de lírios negros minha orelha de cristal

meu rochedo rolando pela falésia para esmagar o guarda florestal

meu caracol de opala meu mosquito de ar

meu edredão de aves-do-paraíso minha cabeleira de espuma preta

meu túmulo estoirado minha chuva de gafanhotos vermelhos

minha ilha voadora minha uva de turquesa

minha colisão de carros loucos e prudentes meu canteiro selvagem

meu pistilo de papoila projectado no meu olho

meu bolbo de túlipa no cérebro

minha gazela desgarrada num cinema da avenida

minha caixinha de sol meu fruto de vulcão

meu riso de charco escondido onde se afogam profetas distraídos

minha cheia de groselha minha borboleta de míscaro

minha cascata azul como um maremoto que espalha a primavera

meu revólver de coral cuja boca me atrai como o olho dum poço

cintilante

gelado como o espelho onde contemplas a fuga dos colibris do teu olhar

perdido numa exposição de roupa branca rodeada por múmias

amo-te

"Allô", Benjamin Péret

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