Da série de factos inexplicáveis que são o universo ou o tempo, a dedicatória de um livro não é decerto o menos secreto. Define-se como uma dádiva, um presente. Salvo no caso da indiferente moeda que a caridade cristã deixa cair na palma do pobre, qualquer verdadeiro presente é recíproco. O que dá não se priva do que dá. Dar e receber são o mesmo.
Como todos os actos do universo, a dedicatória de um livro é um acto mágico. Também seria lícito defini-la como o modo mais grato e sensível de pronunciar um nome. Eu pronuncio agora o seu nome, María Kodama. Tantas manhãs, tantos mares, tantos jardins do Oriente e do Ocidente, tanto Virgílio.
Inscrição, in "A Cifra" (1981), Jorge Luis Borges.
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