(clica na imagem)
A verdade, digam lá o
que disserem,
é que tivemos muito
pouca sorte
com os poetas (?)
nossos contemporâneos.
Um nasceu em Galveias
e tatua-se
ou alfineta-se para
disfarçar um vazio evidente;
outro gosta de andar
nu em Braga,
muito depois – e aquém
– de qualquer Pacheco.
(Ignoram, ambos, que a
única pila maior
do que o mundo era a
do João César Monteiro.)
Um terceiro, cujo nome
nunca escreverei,
é a mulher moderna da
edição
às cegas e da sacanice
quotidiana. O quarto
ou o quinto (gabo quem
os logra distinguir)
arrotam melancolia e
não admitem
o mínimo desvio à
sacrossanta transfiguração da lírica.
O sexto – não, não me
apetece falar aqui do sexto.
Consola-nos, isso sim,
saber que uns se tornaram
entretanto romancistas
(pilim, pilim), e que os restantes
hão-de ser, muito em
breve, ministros
ou apenas pulhas (é,
no fundo, a mesma coisa).
Enquanto, de esgoto em
esgoto,
Portugal progride a
olhos vistos
e é bem capaz de
levar, um dia destes,
com outro Nobel nas
trombas.
"Inventário Plebeu", Manuel de Freitas, in Piolho (2011), revista de poesia.
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