Não sei porquê, dei comigo a pensar no Venitchka,
anti-herói e alter-ego de Erofeev no seu “De Moscovo a Petuchki”, que nas suas
deambulações nunca encontra o Kremlin, acabando por ir dar sempre com as fuças à
estação de Kursk, pois a minha estação de Kursk é a padaria, e por mais voltas
que dê, acabo sempre por lá esbarrar. Numa dessas, o Careca dissertava às
moças, de um lado a menina balcão, de outro, a menina Joli, morena, um moreno
de praia, nada de solários ou de base, segundo a própria. O Careca animava-se,
reafirmava o vício do dinheiro como o supremo dos vícios, nunca saciado,
comparando-o, claro está, ao sexo, e num murmúrio, com as mãos em concha,
explicava condescendente que, mesmo no sexo, chega um momento em que estás
saciado, não é?, dizia entre risinhos. E as meninas riam, também.
Entra o Silva, cheira-lhe ao Mendes. Já aí estão. O
Silva entre o boa tarde e a Super, murmura um arrastado impressionante e, como não obtendo resposta, remata que as
manifestações dos últimos tempos são manifestações de crédito, eu sempre disse, obviamente de crédito,
eu sempre disse, pelo menos, as auto-estradas existem, já o buraco do BPN não
se vê, é o buraco sem fundo, acrescenta, picando o Mendes, que riposta que o
problema é o 26 de Abril, mas sem referir de que ano, acrescentando um
enigmático tem que se ensinar, ao que
o Silva contrapõe o clássico eu sempre
disse. A menina Joli termina o segundo galão, repetindo o seu moreno de
praia, e a menina balcão acumula um claro, claro atrás do outro, um
claro de assentimento geral que o Careca nem repara, continuando a sonhar
alto, insaciável.
De saída, recordo o Tabuletas e os seus fogos, e por momentos penso que a questão
do pão branquinho e mal cozido não é
apenas um problema de padaria pós-moderna, nem da qualidade dos produtos ou dos
padeiros em parcimónias de moina, as pessoas simplesmente gostam assim, que se
há-de fazer.
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