janeiro 27, 2012

Na Tasquinha do Portugal


Singular, o país borracheira. Acorda e não se lembra de nada. Por vezes, ainda bêbado, lá remói um sentimento, barafusta, adverte, para logo voltar a dormitar ou seguir viagem com um comprimido ou dois, dos brandinhos. Já sabíamos que por estas bandas não se indicia a memória, esta simplesmente está em extinção, mas a lembrança, que diabo!, a parente pequenina, seria legítimo nela crermos, e dela nos socorrermos. 
Ainda recentemente era o caso das Maçons, que alguns (mais argutos, presume-se) não confundiam com Maçonaria e outros com a Marcenaria, e fuja-se da expressão Pedreiro Livre, que nos remete para trolha, livre ou não, mas trabalhador. Extinguiu-se rapidamente a vozearia, refinando-se as baterias para EDP e as Águas (nem para lavar os pés) de Portugal: que bebedeira interminável, e que ressaca colossal, que desmemoriado (re)acordar sórdido; mas atento, perscrutador, logo rejuvenescido como uma alface, já subjugado ao acordo de concertação social, aqui e ali atafulhando o Sr. Proença de algumas carvalhadas, comentando ao que parece as futuras relações de trabalho, emborcando mais uns comentadores à jorna, até à hora do jogo. E até à hora do jogo, aquecia o Padre Cavaco de Boliqueime, uma vida inteira com os pobres, a esmolar, e ainda hoje como amanhã, sem qualquer horizonte de malga que se veja. Sonhos de rapar o tacho. E depois vomita-se. A dor de cabeça, essa, mantém-se, sorrateira e manhosa, superficialmente acariciando a nuca e o cachaço. O garrote da austeridade aperta soalheiro a cada manhã. A cada empréstimo. A usura resmunga mais uns cêntimos por causa das coisas; e apesar das bebedeiras, dos comprimidos, das privatizações em injectável, e das barricas de soro televisivo, o corpo resmunga, pede mais, canaliza toda a mentira possível para manter a adição. Nega(-se). O corpo corrompe-se, aqui e ali, cogitamos nós. Acorda e não se lembra de nada…

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