Normalmente demoro 30 anos a comentar assuntos e temáticas prementes e/ou supostamente pertinentes, a seu tempo actuais. Cansa-me a insana vaidade dos claustros que polvilham os ecrãs, esses palcos irreversivelmente postiços. Aprecio coisas humanas. Em cada dia que passa, e apesar de tudo, prefiro experimentar nojo (sinceramente) sentido pela amálgama de nadas que nos soletra a cada instante e repetidamente um mundo vertiginosamente devasso, decrépito e claustrofóbico, ainda assim demasiado humano, onde manifestamente e com prazer me incluo, a esse outro, asséptico, branquinho, ameno e irremediavelmente velhaco, alicerçado em supostas preocupações com o universo, e a putativa presunção de saber o que é melhor para todos. Incluo neste último, esse mundinho de azulejos de casa de banho e energias (pindericamente) renováveis (com cigarrinhos à mistura no avião e pedidos de desculpa) do sr. engenheiro que governa este país; e um outro mundinho, aquele do somos todos pares desde que na realidade todos estejam em concordância com aquilo que eu digo, essa eterna vanguarda do melhor para todos. Saramago deveria saber que a bíblia não é um livro de história, mas refastela-se na poltrona do seu lado do mundo, o melhor, para ele claro. O problema é quando este (seu suposto mundo) se torna o tal melhor para todos. O escritor (que aprecio e muito no Memorial) chegou àquele ponto da vida em que nos pode mandar a todos (e bem) para o caralho. Ou enlouquecer se lhe aprouver. O resto é conversa afiada que ajuda, e muito, a esquecer rapidamente (por exemplo) as palavras daquele gajo com nome de aviador da 1ª guerra mundial, o delegado sindical dos patrões, o sr. Van Zeller, que afirmou não ser possível cumprir o acordado em concertação social, isto é, conceder uns majestosos 25€ de acréscimo ao salário mínimo de 450€, a esses opulentos dos operários. Os tais que o sr. Saramago defende das impudências da cruz.
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Um comentário:
Luminoso. o melhor artigo sobre a não questão Saramago e o resto...
S.L.
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