"Com que então vão-nos meter um chip nas matrículas dos carros. Vem no PÚBLICO de ontem. O PSD chamou-lhe um Big Brother rodoviário. Os autores do decreto-lei que não; que é só para cobrarem as portagens; controlarem o trânsito; lutarem contra o terrorismo e não sei que mais de bem-cheiroso e inocente.
Juram que jamais servirá para vigiar os cidadãos. Isso não. Só vai ter uma aplicação local, dizem. É estranho, porque há portagens em todo o país. E os chips, como sabemos das séries policiais, vão para toda a parte e fazem mipe-mipe-mipe no radar dos perseguidores.
Um cidadão vê logo – e com razão – a vida negra. Nunca mais poderá exceder os limites de velocidade. Nunca mais poderá ter uma amante local. E mesmo que consiga arranjar uma amante nacional, nunca mais poderá estar à vontade. Nunca mais poderá passear no carro de serviço. Ou cobrar quilómetros a mais. E quanto a ir despejar cadáveres às três da manhã, isso é que era doce.
É como as escutas telefónicas ou o cartão de cidadão. Ao princípio, ninguém chateia. Depois, há um crime horrível e abrem uma excepção. Vem uma crise económica – e começam a cobrar multas. A seguir, surge uma empresa perita em chips e divórcios, que descobre a tal amante em Ovar que custará milhões. Nunca mais acaba.
Já lá vão os tempos do ninho atrás da orelha: agora só descansam quando nos meterem um chip dentro da orelha, como fazem aos cães de raças perigosas. E ninguém morde? Acho que é tempo de começarmos a morder.
Juram que jamais servirá para vigiar os cidadãos. Isso não. Só vai ter uma aplicação local, dizem. É estranho, porque há portagens em todo o país. E os chips, como sabemos das séries policiais, vão para toda a parte e fazem mipe-mipe-mipe no radar dos perseguidores.
Um cidadão vê logo – e com razão – a vida negra. Nunca mais poderá exceder os limites de velocidade. Nunca mais poderá ter uma amante local. E mesmo que consiga arranjar uma amante nacional, nunca mais poderá estar à vontade. Nunca mais poderá passear no carro de serviço. Ou cobrar quilómetros a mais. E quanto a ir despejar cadáveres às três da manhã, isso é que era doce.
É como as escutas telefónicas ou o cartão de cidadão. Ao princípio, ninguém chateia. Depois, há um crime horrível e abrem uma excepção. Vem uma crise económica – e começam a cobrar multas. A seguir, surge uma empresa perita em chips e divórcios, que descobre a tal amante em Ovar que custará milhões. Nunca mais acaba.
Já lá vão os tempos do ninho atrás da orelha: agora só descansam quando nos meterem um chip dentro da orelha, como fazem aos cães de raças perigosas. E ninguém morde? Acho que é tempo de começarmos a morder.
“O coiote com bip bip”, Miguel Esteves Cardoso no Público 29/05/09
Eu acrescentaria ainda as câmaras de vídeo vigilância (quem vai fiscalizar no nosso quintal a informação recolhida?); acrescentaria o controlo das roupinhas das meninas da loja do cidadão e dos alunos nas escolas, já para não falar das perniciosas e destemperadas feiras do livro, que convidam à devassidão dos sentidos e outros males, onde o menor desses, não será, certamente, a própria leitura…
Eu acrescentaria ainda as câmaras de vídeo vigilância (quem vai fiscalizar no nosso quintal a informação recolhida?); acrescentaria o controlo das roupinhas das meninas da loja do cidadão e dos alunos nas escolas, já para não falar das perniciosas e destemperadas feiras do livro, que convidam à devassidão dos sentidos e outros males, onde o menor desses, não será, certamente, a própria leitura…
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