Imaginem um tipo (tipo investigador) que necessita de consultar determinado acervo em arquivo, disponível (todos os indícios contribuíam para tal pensamento) para consulta. Este tipo, tipo investigador (não, não é investigador tipo PJ) desloca-se ao local: uma instituição estatal, guarnecida desse tal acervo em arquivo (segundo as más línguas num local pouco aprazível com visitas de pombas e outros animais acolhedores, o que apenas aguçou mais o interesse do tal investigador tipo), abre a porta (logo estava aberta ao público) e entra placidamente depois de ter recusado um Euro a um (outro) tipo encostado à porta que nada tinha que ver com a instituição mas que necessitava de, segundo as suas próprias palavras, “pelo menos um euro”, ou “mais coisa menos, coisa” para, digamos, uma situação. O investigador subiu depois umas escadas. Que pena não serem em caracol para nos preparar para o cenário seguinte: duas senhoras, uma de pé vestida como quem anda por casa e tem um quintal e uma outra sentada, de bata, segundo lhe pareceu e (o investigador jurou-me) a fazer croché, acomodavam-se no hall. Por momentos o investigador recuou, talvez se desse o caso de se ter enganado. Olhou e viu um guichet. Salvo. Mas ninguém lá dentro. A senhora que estava de pé interpelou-o perguntando ao que vinha. Ele explicou. E tal…”consultar o arquivo para um trabalho de investigação no âmbito” de tal e tal, e se for necessária uma “credencial” e tal. A senhora ouvia sem perceber patavina e foi “consultar uma colega”. Cinco segundos depois já lá estava a explicar que não havia problema, ter-se-ia que marcar umas horas para que um colega pudesse estar presente para o “acompanhar” e sabe-se lá mais o quê . O investigador acrescentou que a coisa deveria “ser demorada” e para várias visitas logo o colega…”não faria mais nada”… e que de qualquer forma seria de “todo desnecessário”, mas a senhora apenas acrescentou que deveria enviar um E-mail com o que procurava e a disponibilidade, pronunciando E-MAIL muito devagarinho, com solenidade a até orgulho. Apenas aí o investigador compreendeu estar perante uma espécie de plano tecnológico travestido de fato de treino e chinelas. Perguntou a morada do E-mail. A senhora respondeu, algo seca e até com algum desdém: “é tal”.
Na rua o investigador meteu a viola ao saco. “Basta um E-mail”, pensou…
No dia seguinte enviou o tal E-mail explicando a situação ao pormenor incluindo a deslocação ao local, afinal desnecessária, e descrevendo com minúcia o que pretendia e a sua disponibilidade. Dias passaram. O investigador convence-se que o trabalho na instituição deve ser sufocante para nem sequer haver tempo para responder. Mais uns dias e ele decide-se por…enviar outro E-mail solicitando a visita e enviando o anterior em anexo. Mais uns dias. E outros. O investigador telefona. Ninguém atende, uma, duas, três vezes. Finalmente uma voz ensonada, que no entanto ganha logo tom de funcionalismo público, responde do outro lado. Ele expõe a situação. Ela deixa-o expor. No final diz-lhe calmamente que, enfim…vai “falar com uma colega”. “Só um segundo”, diz. Volta mais tarde e aplica o mesmo “só um segundo, sim” mas este com música. De volta à música explica que de momento não pode ajudar porque a “colega dos E-mails está ao telefone…será que pode ligar mais tarde?”. “Colega dos E-mails?” rosna um já completamente desorientado investigador… “colega dos E-mails?...” ainda se ouve. Entretanto após várias tentativas para obter ligação telefónica, parece que o investigador optou (e a nosso ver bem) por dirigir-se ao local mais uma vez e, não obtendo resposta concreta, contactar “alguém” que já lá tenha estado ou “conheça” aquilo por "dentro". Não basta fazer obra, edificar, ter ideias. Andamos nisto das ideias e da obra há séculos. simplesmente é necessário que as coisas funcionem. E já agora as pessoas saberem, em cada local, o que estão ali a fazer…
Na rua o investigador meteu a viola ao saco. “Basta um E-mail”, pensou…
No dia seguinte enviou o tal E-mail explicando a situação ao pormenor incluindo a deslocação ao local, afinal desnecessária, e descrevendo com minúcia o que pretendia e a sua disponibilidade. Dias passaram. O investigador convence-se que o trabalho na instituição deve ser sufocante para nem sequer haver tempo para responder. Mais uns dias e ele decide-se por…enviar outro E-mail solicitando a visita e enviando o anterior em anexo. Mais uns dias. E outros. O investigador telefona. Ninguém atende, uma, duas, três vezes. Finalmente uma voz ensonada, que no entanto ganha logo tom de funcionalismo público, responde do outro lado. Ele expõe a situação. Ela deixa-o expor. No final diz-lhe calmamente que, enfim…vai “falar com uma colega”. “Só um segundo”, diz. Volta mais tarde e aplica o mesmo “só um segundo, sim” mas este com música. De volta à música explica que de momento não pode ajudar porque a “colega dos E-mails está ao telefone…será que pode ligar mais tarde?”. “Colega dos E-mails?” rosna um já completamente desorientado investigador… “colega dos E-mails?...” ainda se ouve. Entretanto após várias tentativas para obter ligação telefónica, parece que o investigador optou (e a nosso ver bem) por dirigir-se ao local mais uma vez e, não obtendo resposta concreta, contactar “alguém” que já lá tenha estado ou “conheça” aquilo por "dentro". Não basta fazer obra, edificar, ter ideias. Andamos nisto das ideias e da obra há séculos. simplesmente é necessário que as coisas funcionem. E já agora as pessoas saberem, em cada local, o que estão ali a fazer…
2 comentários:
O Processo...
Ainda acabas preso, na melhor das hipóteses. Claro, sem saber porquê...
é um país de enganos e aparências.Bom artigo e bem escrito (mto raro) até daria um conto..
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