O homem foi muitos. Tantos, que me embaraço neste cantinho onde teço as minhas teiazinhas. Desses muitos, saliento agora um, pelo impacto no adolesceste dormente que era eu. Chama-se Tabacaria, e foi escrita pelo Eng. Álvaro de Campos, amigo e heterónimo de Pessoa.
Fernando Pessoa faria hoje 120 anos.
TABACARIA (Um fragmento)
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida(...)
3 comentários:
Considering the fact that it could be more accurate in giving informations.
Gabriel Pedro, tu que também és muitos, nesta pequena homenagem a Pessoa, deste-me a possibilidade de recordar este poema de que também gosto muito.
Conto contigo no dia 2 de Julho na Feira do Livro de Barcelos,na apresentação do meu segundo livro, não faltes...
Seria uma desfeita que farias a este teu amigo.
um poeta...sem palavras. Grande e todo um mundo...
Grande blogue
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