Foi a primeira ou a segunda marquise do bairro. Talvez em finais da década de 1970, inícios de 1980, não sei precisar. Já tinha bicicleta, eu, e o meu primo Fredinho, a dele teria sido a primeira do bairro e a minha a segunda. Já saberia há muito nadar, logo estaríamos em finais da década de 1970.
Embora a cerca de
Às vezes ao atravessar a bouça para casa, sonhando acordado, benzia-me sorrateiramente e corria, fugindo daquele tufo incómodo que resistia ao apelo inexorável da cidade. Uma dúzia de pinheiros, uma mesa de pedra e alguns pássaros, ainda assim menos que as pressões de ar que os varavam, os alçapões e outras armadilhas. À sua volta quintas esfomeadas e algumas casitas, até se perder tudo no rio.
Observava as raparigas da janela com o nariz espalmado entre a vidraça e os cortinados feitos pela mão da avó, enquanto invadia a Alemanha por terra ou a bordo de um Spitfire. Descobria o Buffalo Bill a farejar algo com os seus amigos peles-vermelhas (eu era um Comanche) e as montanhas do Arizona, e jogava insanamente futebol de mesa com bancadas pré-fabricadas. O Sporting foi muitas vezes campeão.
Outras vezes lia. Não raro, tocava o telefone com um triiim fabuloso a dar com o encarnado da sua veste e eu acordava. Por ali lanchava e pintava bolas de borracha com símbolos da Adidas. Tudo feito à mão.
Na marquise comecei a gravar as minhas cassetes num pequeno gravador com rádio. A primeira gravação deve ter sido dos dias mais venturosos da minha existência. É disso que se tratará…das minhas cassetes.
março 19, 2008
Da marquise com amor: as minhas cassetes parte I
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2 comentários:
Já pensou em escrever contos? Ou já o faz? escreve tão bem...
Tu ainda vives numa marquise...
Atende o telefone quando te ligar, pode ser Gabriel Pedro?
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