Quando recebemos uma carta das finanças isso reforça a nossa
confiança no sistema. Quando a carta é precedida, algures, por um email, rejubilamos
agradecidos a tão inteligente país. Querendo, poderia exercer o direito de
audição nos termos e para os efeitos do artigo tal. Ou poderia pagar. Coima (19 cêntimos)
incluída. Querendo, eu queria pagar, mas não podia deixar de notar alguma agressividade
naquela missiva, cujo linguajar deveria constituir-se como prova da superioridade
moral do (nosso) sistema. Pena que nem toda a gente o consiga perceber, funcionários
incluídos. Repliquei (mentalmente, apenas) que a culpa era dos meus assessores,
que também os tinha, dos advogados, dos empresários, da carripana em causa,
velhinha de 1999. E lá fui ao sítio procurar uma forma de pagar e não bufar.
Liquidação oficiosa de IUC: feito. E saí dali a sorrir, mais ou menos como o
Cristiano Ronaldo e aquela moça jeitosa, após a tal audição, onde o jogador terá assumido culpa de quatro delitos fiscais entre 2011 e 2014 – durante a sua passagem pelo Real Madrid –,aceitando pagar 18,8 milhões de euros de multa, além de 23 meses de prisão, com pena suspensa. E tudo por coisas que não sabia, nem fazia a mínima ideia sequer
que não sabia. Os heróis são assim, sorriem apesar de notificados. Às vezes
também se riem, mas isso é mais quando sabem de coisas que se revelam uma
demonstração da natureza ética/humorística deste país, mais ou menos como: Mãe de dirigente do Aves esconderia contratos com o Benfica. É insustentável? Terão sido notificados?
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