Ele há merdas difíceis de compreender, por exemplo, os
seres humanos em Portugal apenas se manifestam de forma violenta quando assistem
a um jogo de futebol, ou se acham na denominada atmosfera redundante que sustenta
esse mesmo jogo (ainda ontem um autocarro de um clube foi apedrejado com blocos
de cimento!, à saída de Braga); ou então, quando estão a conduzir um automóvel
– e aqui qualquer razão poderá ser válida, ou vá, quando existe algum problema
com a delimitação do murete do vizinho. As reacções a tudo isto são normalmente
um comunicado escrito num sítio da internet ou um encolher de ombros televisivo
dos intérpretes do comentário. Também sai qualquer coisa nos jornais da terra.
Por outro lado, raramente um ser humano neste país se
manifesta violentamente quando perde o emprego ou quando é explorado e mal pago,
ou mesmo se tem fome para além da vontade de comer. De qualquer modo, qualquer
comportamento nesse sentido seria obviamente considerado leviano,
antidemocrático e até ofensivo. As reacções seriam previsivelmente revestidas
de roupagens frenéticas a atender nos exemplos dos últimos tempos e cujo
epicentro está relacionado com umas vaias e umas cantigas. A democracia ora é
um mero fastio formal, ora é uma arma de arremesso ao serviço do gestor do momento. Qualquer objecção, seja ela
qual for, deverá ser expedida por correspondência registada e com aviso de
recepção.
[Bartleby]
2 comentários:
gostei muito do trocadilho do título, e o artigo vai ao encontro de uma realidade tantas vezes escondida
Temo que a nossa democracia seja apenas um objecto formal...
Artur S.
parece que vivemos num trocadilho generalizado:)
sucede que uns ganham mais com isso do que os outros:))
he..hehehehe
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