maio 16, 2009

Um homem como “todos nós”, as suas mulheres e os fãs-eleitores


Estou certo que poucos o lêem. Escreve, segundo percebi, quinzenalmente, na revista Visão, que há muito abandonei, e à qual agora recorro para sacar uns filmes do Almodóvar a preço de ocasião. A revista está pejada de publicidade e as suas capas revelam-se irritantemente coloridas, aliás, como grande parte do interior, este último, polvilhado de uma ou outra reportagem, alguma análise e crónicas, e muita noticiazinha recorte, para além de curiosidades. O José Gil é um pouco diferente. O pensamento, a reflexão sustentando a análise, não são apenas incomuns, são raríssimos, neste cadinho mediático cevado pela pose e pela aparência. Esta semana, em linguagem simples (com a escolinha actual não sei se inteligível), assina o texto mais estimulante da revista. Deixo aqui, apenas, um cantinho para ponderação:

"Berlusconi é, nesse aspecto [controlo espaço político mediático], exemplar: da exploração mediática das suas operações plásticas e truques cosméticos à escolha de mulheres (modelos, actrizes) apenas pela sua beleza (e poder mediático) para deputadas, até às suas gaffes habituais (como comparar os campos dos sinistrados da L’ Atila com campings de fim-de-semana), tudo revela a transformação do acontecimento político em pura trivialidade. Como? Trazendo o trivial para o plano da política, e apresentando o processo como uma democratização da liderança. O líder tornou-se actor ou performer de um espectáculo em que tudo é político – voltamos ao corpo sagrado do rei das realezas mágicas ou dos impérios orientais (Berlusconi não é apelidado, além de cavaliere, de imperador?) (…) A ética foi absorvida pela estética da imagem a qual depende de uma vasta rede de relações de forças – em que age profundamente a vocação das novas tecnologias em «mostrar tudo». Estamos longe da ética das forças vitais. Esta foi virada do avesso e a livre expressão das forças foi substituída por uma máquina de captura: a imagem do chefe produz milhões de fãs-eleitores."

José Gil, Visão, 14-05-09

De resto podem sempre ler Baudrillard, ou, em último caso, escrever um livro. Que esperas Mara Carfagna?

Adenda: Mara Carfagna (a menina da imagem) é Ministra para a Igualdade de Oportunidades do governo Berlusconi. Não esperem, da minha parte, nenhum trocadilho sobre a ministra, ou sobre a igualdade de oportunidades, não esperem...

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