
Em suma, publicidade e marketing do mais tasqueiro a descorçoar o Dr. Salazar, à melhor de três, com vivas e ais devidamente seccionados. O novo sinal da cruz. Ajoelhem e rezem. Ficará tudo na mesma.
Vivo abancado como um anjo no barbeiro. Rimbaud
“É a vidinha”, repete-se em sonolência nas ruas. Hoje acomodei-me à porta da padaria. Não entrei. Evoquei, por momentos, o meu bom amigo Alfredo, sinalizando os dias com um “nunca pouso a vida por detrás das costas”. Dostoiésvski enxerga-o quando concebe que a vida é o menor dos sacrifícios. Ia neste enlevo, marejado de final de tarde, tinindo ainda na minha cabeça os invariáveis dias, assentes no “tempo que está a mudar”, ou “não tarda trovoa” ou “eles [da meteorologia] dão chuva”, quando decidi acarretar um novo tinto bruto Cabriz (do Dão) para acariciar o palato saudando a noite.
Assaltei depois uns pensamentos óbvios sobre a bovina e oleada matriz da poesia portuguesa: poetas sistema; poetas bolsa; poetas a receberem em casa poetas; bibliotecas resma e mais familiares poetas - a poesia hereditária. Celebrei de memória Alfredo, sem nuvens, recusando-se poeta e escondendo a verve na caneta alheia. Cheguei a casa e recolhi o tinto ao desmaio do frigorífico. Encontrei Alfredo na prateleira da alma. Telefonei-lhe. “Que tens?” disse-me. “Um poema teu”…entre dentes, respondi.