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fevereiro 28, 2013

É como quem diz a eleição de um sentimental


Ele há merdas difíceis de compreender, por exemplo, os seres humanos em Portugal apenas se manifestam de forma violenta quando assistem a um jogo de futebol, ou se acham na denominada atmosfera redundante que sustenta esse mesmo jogo (ainda ontem um autocarro de um clube foi apedrejado com blocos de cimento!, à saída de Braga); ou então, quando estão a conduzir um automóvel – e aqui qualquer razão poderá ser válida, ou vá, quando existe algum problema com a delimitação do murete do vizinho. As reacções a tudo isto são normalmente um comunicado escrito num sítio da internet ou um encolher de ombros televisivo dos intérpretes do comentário. Também sai qualquer coisa nos jornais da terra. 
Por outro lado, raramente um ser humano neste país se manifesta violentamente quando perde o emprego ou quando é explorado e mal pago, ou mesmo se tem fome para além da vontade de comer. De qualquer modo, qualquer comportamento nesse sentido seria obviamente considerado leviano, antidemocrático e até ofensivo. As reacções seriam previsivelmente revestidas de roupagens frenéticas a atender nos exemplos dos últimos tempos e cujo epicentro está relacionado com umas vaias e umas cantigas. A democracia ora é um mero fastio formal, ora é uma arma de arremesso ao serviço do gestor do momento. Qualquer objecção, seja ela qual for, deverá ser expedida por correspondência registada e com aviso de recepção.

setembro 18, 2012

Preferia não o fazer



«O que acontece agora sabem os mortais,
e o que será um dia os deuses sabem,
os únicos senhores de toda a luz profunda.
Mas o que vai acontecer em breve
o atento sábio sabe. O seu ouvido

às horas do silêncio há que escuta
inquieto e perturbado estranhos sons
que às vezes vêm de eventos que estão presentes.
E respeitosamente atenta neles,
enquanto as gentes fora nada ouvem.»

“Os homens sábios entendem o que vai passar-se*”, in 90 e mais quatro poemas, Constantino Cavafy. Tradução de Jorge de Sena. Asa.

*Porque os deuses sabem dos eventos futuros, e os homens dos eventos presentes. Mas o sábio sabe do que vai passar-se.
Filóstrato, Sobre Apolónio de Tiana, VII, 7.

[bartleby]