Mostrando postagens com marcador entrevistas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador entrevistas. Mostrar todas as postagens

outubro 21, 2018

O que terei feito de mal para as pessoas gostarem do livro?


O meu problema era o nível da prosa. Até que ponto a minha prosa é boa? E falar da guerra, nesse sentido também, é muito complicado. E falar de vivência, coisas pessoais. E foi estranho. Os Cus de Judas teve sucesso imediato. Lembro-me que quis fazer o lançamento de Memória de Elefante e estavam o editor, uma empregada da editora e eu. N’Os Cus de Judas já havia uma multidão. Os meus irmãos diziam-me: “Na praia está toda a gente a ler Memória de Elefante.” Não estava preparado para aquele sucesso e fiquei desconfiado. O que terei feito de mal para as pessoas gostarem do livro? (daqui)

Gosto sempre das entrevistas, e vou lendo as suas redacções compridas (para utilizar as palavras do próprio) de forma salteada e ligeira, admito. Separa-nos quase tudo. E isso é sempre estimulante. A páginas tantas, conta isto: Uma vez, eu tinha uns 14 anos, não me apeteceu ir ao liceu e não fui. Ele [o pai]entrou no meu quarto, abriu a janela, de repente ficou luz e eu acordei. A minha pergunta foi: “Vem assistir ao acordar de um génio?

Nós somos seguríssimos, não somos?


Está a dizer isso porque os portugueses dizem mal dos outros portugueses e de Portugal. Mas isso significa que têm a segurança necessária e suficiente para dizerem mal de Portugal e dos portugueses. Vá arranjar um húngaro que diga mal da Hungria e dos húngaros! Não arranja um! Pronto, deve haver um. Isto é um exagero retórico. Encontre um polaco que diga mal da Polónia como nós dizemos de Portugal... Deve haver poucos. Nós somos seguríssimos. A coisa mais importante que é preciso ter na Europa nós temos, que é a nacionalidade. Temos mil anos. Leia o ensaio da Hannah Arendt sobre a nacionalidade. Se você não tiver nacionalidade não existe.

(imperdível, digo eu - daqui)

março 15, 2018

Isto está visto


Gosto de entrevistas. Gosto de ler entrevistas a escritores e a escrevinhadores. Alguns são verdadeiros escritores de entrevistas. Dão bem com os reposteiros, com o branco das paredes, assentam bem com tal ou tal soalho. Um António Lobo Antunes fica sempre bem, e já praticamente só o leio em entrevistas, ou numa ou outra página em que o acaso lírico me visita, fora isso, quase nada. Deu-me ultimamente para ler dois livros com entrevistas: “O Crocodilo que voa – entrevistas a Luiz Pacheco”, e “Roberto Bolaño: Últimas entrevistas”. O primeiro é organizado e introduzido por João Pedro Jorge, o biógrafo de Pacheco. Nas entrevistas, Luiz Pacheco joga naquela posição de artilheiro (assim o denomina o português  futeboleiro de Brasil), disparando em várias (quase sempre as mesmas) direções, devidamente ajudado por um meio campo ávido de sangue. Pacheco daria (na minha modesta imaginação) uma rede social ainda não inventada, cruzamento do faice com o buque, uma app Pacheco, que a bombar, seria um caso sério para passar o tempo. Assim começou ele a escrever. De Bolaño, não sei porquê, gosto dos olhos tristes, uns olhos que escondem uma ambição desmedida, freak, mas desmedida, ambição essa que, por exemplo, se projecta na megalomania insano jornalística de 2666 (que eu fui lendo em casa, na praia e por aí – livro comprado por 3€ numa feira em Guimarães), livro (ou livros?) editado após a sua morte, resgatado através de um corte e cose discutível, claro, defraudando (será?) a ideia do seu autor de o dividir em cinco postas correspondendo a cinco livros, cinco vezes mais dinheiro, em princípio, para os seus filhos. Muito mais nos conta Marcela Valdes na sua pojante introdução, enquanto (imaginamos nós – sem grande deleite), se masturba com o calhamaço 2666, edição americana, acho. Na sua última entrevista, concedida a Mónica Maristain (gosto deste nome: Maristain), da Playboy (a sério) edição mexicana, a páginas tantas, a entrevistadora julgando estar perante um miss universo, chuta “o mundo tem remédio?”, sem se rir, tudo isto tem, supostamente, um contexto, e Bolaño calmamente responde: “o mundo está vivo e nada vivo tem remédio. Essa é a nossa sorte”. A edição da revista data de Julho de 2003.  Bolaño morre a 15 de Julho de 2003.


Imagem de um crocodilo (na verdade trata-se de um jacaré) a voar. Está visto

novembro 13, 2011

Enquanto decorre o saque curiosas impressões na 1ª pessoa de alguns tipos não propriamente próximos

"O saque de Roma" pintura de Martin van Heemskerck (1527)
"Limitado como sou, só há pouco tempo me dei conta que todas as teorias e saberes académicos pouco ou nada interferem no processo de decisão, na prática de quem detém responsabilidades e muito menos na arte de manter o poder. Com ou sem socialismo, com ou sem liberalismo, com ou sem nacionalismo, os portugueses continuariam a ser irresponsáveis, corrompíveis, timoratos, gananciosos, nepotistas, fisiologistas, sem respeito pela lei, agarrados a pandilhas e lóbis para todos os gostos e oportunidades, avessos ao bem-comum, críticos cáusticos de toda e qualquer forma de autoridade, maledicentes, invejosos, ingratos, servis ou respondões. São traços de carácter colectivo, pelo que um golpe de Estado seria seguido de um novo regime salpicado de Varas, Loureiros, Sucateiros, Godinhos, Joaquins Pessoa, Pedros Soares, Duartes Limas, Felgueiras, Isaltinos".

Escreve o Sr. Combustões, um tipo para aí monárquico conservador a frio e a sério, muito próximo de histórias asiáticas – In Combustões

"A responsabilidade é sempre dos principais dirigentes, mas também é de todos. Nós temos uma maneira de estar que nos leva a estas situações. A pequena cunha, a pequena vigarice, a economia paralela. Como eu digo às vezes, isto já não é um país, isto é um lugar mal frequentado. Somos o que somos. Ainda sofremos as consequências da inquisição, que secou as elites em Portugal, e faltam-nos elites."

Diz em entrevista ao Jornal I (12-11-11) o improvável Vasco Lourenço, Militar de Abril, um tipo que alguns gostam de não gostar. Um tipo quase próximo – diz ele – de um Mário Soares mais antigo. 

"Fico muito irritado. Não Suporto o Portugal da moscambilha e da tranquibérnia. Videirinhos, patos bravos a enriquecer. Fulanos a falar engravatados na televisão que deviam estar na cadeia, muitos deles. Deve obrigar também a uma reflexão."

Diz-nos Mário de Carvalho em entrevista ao Jornal I (12-11-11), um tipo escritor que gosta de dizer palavras difíceis a jornalistas já de si pouco dados a literaturas e a escrevinhares, e nós levamos por tabela. Um tipo que estudou direito porque não tinha jeito para nada, e que talvez esteja próximo de alguma esquerda antiga não comprometida e por aí fora, quem sabe.

Caro Mário de Carvalho, moscambilha pode ser  por exemplo tramóia, e tranquibérnia, por exemplo, trampolinice ou falcatrua. Não havia necessidade.