novembro 23, 2018

Truques de glória


Estou há mais de dois meses para escrever algo sobre o “Paterson”, um filme de Jim Jarmusch, mas por razões alheias à minha vontade, razões essas absolutamente indetermináveis, pelo menos até à hora em que escrevo estas linhas, tal não foi possível, ainda tentei contactar o escriba, isto é, eu próprio, mas tal não foi também, de todo, possível. Fica para outro dia. O personagem principal deste filme chama-se Paterson, e a cidade onde a acção se passa também se chama Paterson, razões mais que suficientes para o filme se chamar Paterson. Paterson é uma espécie de poeta condutor de autocarros. A sua vida é um rame-rame que apenas nos chama atenção pelo facto de escrever poesia. Se fosse um rádio amor condutor de autocarros seria muito mais difícil a sua recepção em Cannes. A mulher de Paterson é uma idiota com a mania de ser artista, o que é muito comum nos dias de hoje, tanto uma coisa como a outra. O Jarmusch sabe bem isso, é um diletante, gosta do Paterson na medida em que este não tem telemóvel, escreve poesia e, às vezes, lá bebe um copo quando vai passear o cão ou levar o lixo, já não sei, mas fico com sensação que a acção poderia ser em, digamos, Amarante, também deve por lá devem haver poetas que gostem de outros poetas, embora sem conhecerem (não vem mal nenhum ao mundo) o William Carlos Williams. Jim Jarmusch vai-se aborrecendo ao logo da realização do seu filme ao ponto de fazer com que Paterson, por obra do demo, fique sem o seu caderninho de poemas, sem ter tido tempo de o fotocopiar. Ficamos todos muito chateados e solidários. Nós, e a menina que a páginas tantas lhe lê um poema, ao nível dos dele, ou de qualquer outro condutor de autocarros poeta, para não dizer de WCW. Todavia, Paterson, embora chateado (nota-se algum esforço do actor nesse sentido) continua a conduzir o seu autocarro (não é à toa que o nome do actor é Driver), mas ficamos sem saber se alguém lhe terá dito que não é o fim do mundo, que também Herberto Helder perdeu um manuscrito original num comboio, coisa que lhe terá provocado uma profunda angústia de duração não inferior a seis meses. Não sabemos, ainda, se Paterson ou mesmo Jarmusch sabem da participação de HH numa curta de 1968. Saberiam? Saberão? Como reagiria, ou reagirá Cannes? Não sabemos, é um perfeito enigma.


(Paterson a escrever os seus poemas, acho)


Um comentário:

Unknown disse...

Interessante, você gostou do filme? É excelente, sinto que história é boa, mas o que realmente faz a diferença é a participação do ator Adam Driver neste filme. O elenco deste filme é ótimo, eu amo tudo onde Adam Driver aparece, o ultimo que eu vi foi em um dos melhores filmes de drama para a familia chamado Lucky Logan Roubo em Família, adorei esse filme! De todos os filmes que estrearam, este foi o meu preferido, eu recomendo, é uma historia boa que nos mantêm presos no sofá. É espetacular. Pessoalmente eu acho que é um filme que nos prende, tenho certeza que vai gostar, é uma boa história. Definitivamente recomendado.